15:40O trânsfuga pávido

de Viriato Gaspar
(a Nauro Machado, em memória)

Fugaz, como estas mãos que vão morrer,
que vão bordar-se em pó, em pez, em nada,
talvez uma lembrança esbranquiçada
de quem gastei, passei, ou fui sem ser.
Fugaz como o não ver dos olhos magros,
fechados para o voo das distâncias,
fugaz como estes pés, pelos cansaços
que carregaram as pernas e as ânsias.
Fugaz como o que vive, e que demanda
oitenta invernações das pernas bambas,
do coração rajado de estesias.
Fugaz, falaz, à parte dos instantes,
uma promessa que não foi avante,
encalhou no silêncio que o dizia.

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