por Carlos Castelo
É com o coração partido que escrevo estas palavras. Sou o emoji do teleférico, aquele desenho que simboliza as estações de esqui e os momentos de diversão nas montanhas geladas. Li agora que realizaram uma pesquisa global. E, entre todos os símbolos gráficos de mensagens eletrônicas, eu sou o mais impopular.
Enquanto o emoji do riso com lagriminha está sempre no topo das conversas virtuais, eu, o modesto teleférico, estou lá embaixo, no sopé, escondido nos menus.
Tudo bem, é verdade que não sou o ícone mais icônico do universo. Não tenho a fofurice do coraçãozinho encarnado, o apelo do sinal de positivo ou a malícia da piscadela. Mas não significa que não possua meu charme. As estações de esqui são lugares incríveis, cheios de aventura, e sou a ligação entre as pessoas e tais experiências. Contudo, parece que ninguém se importa muito comigo.
As pessoas me usam com tão pouca frequência que, às vezes, me sinto como um meio de transporte em desuso, coberto de neve, um pária esperando em vão por um passageiro que nunca chega. E quando finalmente sou selecionado em uma conversa, é apenas por mofa. “Olha só que emoji mais bizarro, mano” – dizem, e me postam, às gargalhadas, como se eu fosse o símbolo da inutilidade.
Não vou, porém, ficar deprimido. Eu tenho até um plano para me vingar e me tornar um emoji popular.
Encontrarei maneiras inteligentes de me inserir nas discussões da internet. E, quando as pessoas virem que o teleférico pode ser tão interessante quanto qualquer outro emoji, passarão a me querer.
Além disso, vou começar a frequentar eventos sociais importantes no ecossistema dos emojis. Farei aparições surpresa no Campus Party, South by Southwest e outras feiras, causando alvoroço. Quem não adoraria tirar selfies comigo? De graça, até tombo na neve.
Para atrair ainda mais atenção, vou lançar um desafio nas redes sociais. Convidarei as pessoas a me usarem em situações opostas às minhas características. Por exemplo, quando um fato grave acontecer. Tipo uma avalanche, um tsunami, uma calamidade qualquer. Ao saberem disso, os internautas me postariam na hora. Ou seja, o teleférico passaria a ser a nova vinheta do “Plantão Globo” na web. Estou certo de que chamará a atenção de todo mundo.
Acima de tudo tenho fé. Ainda serei alguém que todos desejarão usar. Pode demorar, eu sei. Admito que sou bem vaidoso, mas uma das minhas qualidades é a paciência. Por enquanto, vou carregando esquis, gente encasacada e encatarrada para o pico dos morros. Mas hei de vencer!
(Publicado no O Dia)