8:22Mattos manobrou investigação do pedágio para levar caso a Moro

Do Goela de Ouro

Um dos personagens mais ativos nas manobras para escolha do foro judicial pretendido e, assim, engordar as operações da Lava Jato, que originalmente destinava-se apenas a investigar a Petrobrás, foi o procurador Diogo Castor de Mattos, um servidor lotado na Procuradoria da República em Jacarezinho, no Norte Pioneiro do Paraná, mas que logo ganharia os holofotes da fama.

Mattos começou a propor ações contra concessionárias do pedágio e o Departamento de Estradas de Rodagem contestando a localização da praça de pedágio de Jacarezinho. Mas logo levou o assunto à Lava Jato.

Em 27 de julho de 2016, conforme os diálogos entre procuradores e o ex-juiz Sergio Moro, apreendidos pela Operação Spoofing, Mattos expõe sua estratégia em mensagem a seu chefe, Deltan Dallagnol, que vai na mesma direção: “com lavagem tem que vir pra CWB e Moro é prevento rsrsrs”.

Deltan insinua que a Lava Jato poderia usar a acusação de lavagem de dinheiro em denúncias de pagamento de propinas a agentes do DER para levar a transferir o inquérito para as mãos de Sergio Moro, na 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba. Prevento é o juiz que adquire a prioridade para conduzir determinado processo.

Em 20 de novembro de 2016, Mattos insiste na estratégia: “Então, eu tenho uma ideia”. Deltan responde: “E aí?”. Mattos prossegue: “Em suma era fazer o pedido de operação lá em jacarezinho e o juiz de lá declinar para o moro sob alegação q tem lavagem. Daí já vem tudo redondo. Soh empurrar pro gol.”

Mas nem tudo corria na velocidade planejada por Diogo Castor de Mattos. Eram crescentes suas reclamações de dificuldades com as investigações da Polícia Federal. Em 19 de setembro de 2017, em mensagem a Deltan, Mattos ataca: “esta pf me dá nojo”.

Em 6 de novembro de 2017, com o inquérito já nas mãos de Moro, Mattos propõe a Deltan para que eles fossem conversar pessoalmente com o juiz, para decidir os passos seguintes no processo, porque havia uma suspeita de que Moro pudesse transferir a competência para outro juiz: “e que de repente podemos fazer pela lava jato mesmo(.) pode dar uma impulsionada na investigação de curitiba”. A reunião, segundo os diálogos, foi agendada para o dia seguinte, às 11h30.

No dia 29 de novembro de 2017, Deltan expõe a Mattos suas dúvidas sobre a permanência do que viria a ser a Operação Integração nas mãos de Moro. E encaminha mensagens onde Sergio Moro diz: “Olhe estou pensando novamente no caso de Jacarezinho e se não Seria melhor distribuir entre os juízes de lavagem em Curitiba. Vantagens, sai da 13 vara que está assoberbada, os juízes São bons e Evita as discussões que virão sobre competência. Estou achando que não vale a pena ficar comigo. Vou esperar as representações para avaliar. Além disso estou com receio que no stf o Min fachin não reconhecerá a conexão, o que gerará situação complicada. Se for para outra Vara, a força tarefa do Mp conseguiria manter sua atribuição para o caso?”

Mattos não se conforma: “Daí fudeu Td. Ele já reconheceu conexão. Vai afinar agora. Merda. Temos q manter conosco.” Em 1º de dezembro de 2017, Mattos escreve: “…se redistribuir, não sabemos com quem vai ficar no mpf e se o novo procurador natural vai ser alguém empenhado ou queira ajuda. Também não sabemos com quem vai cair nos tribunais, o que pode afetar diretamente a efetividade. Além disso, certamente vai demorar mais para executar, sendo que nesse meio tempo as concessionárias podem conseguir as prorrogações dos contratos. Por fim, acho que seria bom para oxigenar para lava jato, começar o ano com algo grande e de impacto local, o que ainda não fizemos e somos cobrados…”

A Operação Integração acabaria sendo deflagrada pela Polícia Federal em 22 de fevereiro de 2018, dentro da 48ª fase da Lava Jato, sob a alegação de que as investigações apontavam casos de lavagem de dinheiro, envolvendo o advogado Rodrigo Tacla Duran e o empresário Adir Assad, com pagamento de propina a agentes públicos. Em outro trecho dos diálogos, Mattos informa a Deltan que “descobrira” que o pagamento de propina a agentes do DER acontecia “desde 1999”.

Quatro dias mais tarde, em 26 de fevereiro de 2018, Mattos defende a continuidade da prisão preventiva de acusados na Operação Integração, com o objetivo de obter delações: “e pra ter colaboração precisa manter os kras” (caras).

No dia 27 de fevereiro de 2018, Deltan informa ao grupo: “Beto Richa possivelmente vai se desincompatibilizar e perde o foro com isso. Se isso acontecer, ele vai se dar mal tb rs”, antecipando o que de fato aconteceria, com a saída de Richa do governo, em 6 de abril de 2018, para concorrer ao Senado. No dia 11 de setembro de 2018, o ex-governador acabaria sendo preso, junto com outras pessoas, numa operação conjunta da Lava Jato e do Gaeco estadual.

Em 16 de março de 2018, Mattos tranquiliza o grupo: “ok! Falei com o moro… em princípio não eh tão preocupante… segundo ele, antes de reconhecer a competência ele tinha adiantado ao gebran”. A preocupação dos procuradores ainda era a possibilidade de Moro não continuar com o processo da Integração e a referência era ao desembargador federal João Pedro Gebran Neto, do TRF de Porto Alegre.

Em 10 de junho de 2018 aconteceu o que Diogo Castor de Mattos e outros procuradores temiam: Moro abriu mão de continuar com o caso dos pedágios. Um deles, Januário Paludo, informou: “Moro me disse que não vai ficar com o caso do pedágio. Decisão irreversível baseada no cansaço, por que envolveria outra lava jato e por temer que a manutenção da competência poderia levar a nulidade. Vai dizer ao digo (Diogo) na segunda. Abs. Vai ficar, porém, com o caso do Beto ficha x odebrecht”.

Deltan reage: “meooo caneco… que m…” Januário continua: “Tentei argumentar, mas não quer. Está à beira da exaustão. Só não falei no grupo para não estragar o fim de semana do Diogo”.

A Operação Integração acabaria sendo redistribuída para a 23ª Vara da Justiça Federal, para onde iria também a Operação Piloto, e depois transferida para a Justiça Eleitoral, com o reconhecimento de incompetência da Justiça Federal, em julgamento no STF.

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