6:43O Google está empenhado em humilhar seus usuários com seu paternalismo

por Ricardo Araújo Pereira, na FSP

Os livros de ficção científica avisaram que as máquinas iriam nos atacar, mas não explicaram que seria com fanfarronice

Creio que chegou a altura de alguém fazer a pergunta: quem é que o Google pensa que é? Os livros de ficção científica avisaram-nos de que as máquinas iriam nos atacar, mas não explicaram que o ataque não teria como objetivo a nossa eliminação física, mas sim a nossa humilhação.

Essa ferramenta de busca está empenhada em humilhar os usuários, sobretudo quando o usuário sou eu. O Google é fanfarrão e paternalista. A fanfarronice é constante.

Experimente fazer uma busca. O Google apresenta os resultados e assinala não só quantas referências descobriu mas também o tempo em que o fez. No fim de cada pesquisa, lá estão os dados. Cerca de 731 milhões de resultados e depois, entre parênteses, o tempo que levou a executar a tarefa: “(0,43 segundo)”.

Com franqueza, e se me permitem, o Google que vá ser acintoso com a mãe dele. Essa fanfarronice da ferramenta de busca é mais do que simples jactância. O Google não está só se gabando de ser rapidíssimo. O que o Google está dizendo é o seguinte: “Precisei de menos de meio segundo para efetuar a pesquisa solicitada. Se o teu trabalho ainda não está feito, adivinha de quem é a culpa…” Até quando vamos admitir essa desfaçatez?

E depois vem o paternalismo. Uma pessoa engana-se ao escrever o que procura e o Google pergunta imediatamente: “Será que quis dizer: …?”. Às vezes, sim, foi isso que eu quis dizer. Mas não preciso que me perguntem constantemente, como se eu fosse um frágil velhinho. Eu não sou um frágil velhinho. Sou um vigoroso e forte velhinho. Quando a pesquisa der resultados errados porque escrevi errado, vou perceber, e farei a pesquisa certa.

Outras vezes, o Google nem pergunta nada. Pesquiso “A” e ele diz: “Mostrando resultados para B”. E, por baixo, mais pequeninas, aparecem as letras: “Em vez disso, pesquisar por A”. Ou seja, em certas ocasiões, o Google pensa: “Nem vale a pena pesquisar o que esta pessoa quer. Estou sendo utilizado por alguém que não sabe o que diz. Vou antes apresentar resultados para uma coisa bem diferente. Se ele quiser insistir, que siga esse link bem pequenino.” E, em princípio, o Google faz esta avaliação completa da minha capacidade em 0,43 segundo.

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