de Viriato Gaspar
Quando meu pai morreu, ficou faltando
uma lasca no dia, um debruado.
Uma porta que a noite enferrujasse,
sem janelas pro mar, que secou portos.
Foi como se subisse uma parede
entre o que foi e o que não volta mais.
Uma neblina que tapou o real,
uma névoa embotou tudo o que vinha.
Quando o câncer levou a minha mãe,
minha mão descansou na terra fria.
Não um peso, uma folha ou uma agonia.
A própria não-razão de haver o dia.