Ainda não tinha quatro olhos, mas uma barriga cujo umbigo parecia cápsula espacial a explodir. Meu prato preferido era tijolo. Compraram remédio milagroso que o pediatra receitou. Odiava remédio, cebola, gordura na carne, salada. Quiseram me enganar. O comprimido enfiado na banana, paixão eterna. A primeira mordida bem no meio do medicamento. Um gosto que nunca mais saiu da boca da alma. Então vieram os óculos. Eu, o único de toda turma no colégio de freiras. Não aguentei uma semana. Vom meu corte de cabelo topete de bode, era o alvo das gozações. Joguei fora os dois olhos sobressalentes, Fiz mais: sapateei em cima, como os que abusavam de Woody Allem em “O Assaltante bem Trapalhão”. Bom lembrar. Tomo cinco medicamentos duas vezes ao dia. Se for preciso, jogo pra dentro da boca e engulo todos de uma vez. Comida? Os mais íntimos me chamam de urubu. Prefiro carcará, mas isso é outra história. Óculos vários, graus distintos. Por isso amento apenas ter rasgado uma foto com aquele barrigão que não deixava abotoar a camisa. Mas não esqueço.