6:43O universo conspira, mesmo quando se recusa a acreditar nele a todo custo

por Manuela Cantuária, na FSP

‘Que loucura, parece que o universo está mesmo te mandando uma mensagem sobre o futuro em Porto de Galinhas!’

Duas amigas estão dentro de um restaurante, conversando.

“Você acredita que na mesma hora que pensei em pedir demissão, pousou um pombo na minha janela? E adivinha o que ele fez. Saiu voando! Claramente foi um sinal.”

“Sinal de quê, Tamires? Você mora em Copacabana. Maior concentração de pombo por metro quadrado do Rio.”

“É óbvio que o universo está conspirando. O voo do pássaro é o voo que eu preciso dar agora. Aliás, que mensagem veio no teu biscoito da sorte?”

“’A vida trará coisas boas se tiveres paciência’. E no teu?”

“’O universo não tem nada a ver com isso. Era apenas um pombo de passagem na hora.’”

“Cacete, isso foi muito específico. Que coisa bizarra!”

“Porque você não ouviu o resto da história. Minutos depois, recebo uma ligação do meu banco, oferecendo um empréstimo. Você sabe que eu não acredito em coincidência. É a chance que eu precisava para abrir meu café em Porto de Galinhas.”

A conversa é interrompida por um cliente do restaurante, perguntando se poderia levar uma cadeira vaga da mesa. A camiseta dele é estampada com a seguinte frase: “DESISTE DESSA IDEIA, TAMIRES!”.

“Legal, também me chamo Tamires. Pode levar a cadeira.”

“Ah, mas agora você passou a acreditar em coincidência?!”

“Tamires é um nome super comum nessa cidade imensa.”

“Que loucura. Parece que o universo está mesmo te mandando uma mensagem!”

“Virou esotérica agora? Nunca foi disso. Bom, procurei na internet e já achei até o ponto. Meio acabadinho, mas se eu fizer uma reforma…”

Um clarão interrompe a conversa. Surge diante delas uma Tamires do futuro, suja, armada, e com figurino distópico.

“Tamires, eu vim do futuro para te dizer que o café que a gente abriu em Porto de Galinhas fica em cima de um cemitério caiçara, de uma aldeia dizimada durante a colonização, e a obra desencadeou uma catástrofe que pode levar à extinção da espécie humana. Eu não posso ficar aqui, eles precisam de mim na guerra. Mas você pode impedir tudo isso.”

Tamires do futuro desaparece, Tamires do presente folheia o cardápio, sem dar a mínima para o que aconteceu.

“Coitada. Deve ser droga, sabia. Amiga, você está pálida. Vamos pedir. Deixa eu ver qual o prato do dia. Meu Deus. Surreal. Olha isso. Frango xadrez! Frango. Galinha. Porto de Galinhas. É o destino, cara!”

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