A asa negra apareceu logo depois de horas de neblina densa. Na ponta da asa de metal uma luz piscava – e o clarão me fez lembrar um vagalume caído no meio da floresta. Então o barulho das turbinas sumiram e o que apareceu, além do bichinho entre as folhagens, era o rio que, durante o dia, tinha cor barrenta. À noite era como um pedaço do céu escuro naquele começo do mundo. Um vento balançou as folhagens. Uma canoa feita de tronco parecia querer contar alguma aventura ao balançar. Entrar na água seria encomendar a morte. Entrei e saí, mas dali de dentro vi a torre da pequena capela da vila. O sinal da cruz. A cruz como sinal. Uma voz acudiu. Abri os olhos e o Rio Madeira voltou para o fundo da lembrança. Não havia mais neblina, nem asa negra, apenas luzes de uma cidade desfilando lá embaixo. Aterrissagem perfeita. Na ponta da asa dura a luz continuava piscando. O vagalume no chão virou estrela em Rondônia.