17:34Tina e a cegueira

Tina Turner veio ao Brasil e fiquei cego. Os ingressos comprados, uns dias antes a alma lavada numa praia do litoral norte de São Paulo. Estava pronto para o encontro com a musa. Mas ali numa birosca havia uma cachaça produzida nas profundas do inferno. O primeiro gole a gente só quer esquecer – com os outros. E foi-se uma garrafa, sem rótulo, mas com elogios ao dono. No meio da noite o mar era cantiga de Caymmi. Acordei, ouvi e não enxerguei nada. Gritei sobre a cegueira porque veio o pavor. Alguém acendeu a luz. Então baixou a dor de ter perdido o show com a aquela desculpa de que um dia ela voltaria ao Brasil. Nunca vi Tina ao vivo. Tempos depois, por coincidência, estava próximo e fui assistir Ike Turner, aquele que a maltratou na vida pessoal, mas era um grande arranjador e músico. Foi triste. Uma loira aguada fazia o papel que um dia foi da grande força musical que era ela. Ele se foi há um tempo. Ela, hoje – e ficará como sempre foi: uma estrela fulgurante.

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