17:51Imagens que se foram

Você liga a câmera e aponta para a enorme reta que termina lá na frente num morro. Em cima dele tem um Cristo de cabeça grande. Crendeuspai! Você está sentado no banco de trás do carro branco. Uma cabeça careca aparece à direita na tela. O dono vai morrer meio ano depois. Você desliga e cola a máquina no vidro lateral. Aperta vídeo. Agora há um Padre Cícero aprisionado numa urna de vidro na pracinha do povoado. Valei-me! Teve o mar canavial antes. Uma cidade de nome Maribondo. Uma igreja emparedada. Sandálias de dedo, um ou outro chapéu de couro, alguém a cavalo no asfalto. Sujeira. Banquinhas onde se vende tudo – e isso  quer dizer pinga. Passa logo. Vem o cemitério. Na beira da estrada. Barracos e fazendas-modelo. O motorista conta várias histórias. Sempre se dá bem. A camisa mostra que há um revólver na cintura. Chega-se à cidade ponto-final. Ela se moderniza. A pobreza continua. Tudo no arquivo. Você não olha. Quem se foi olhou muito tudo isso – e levou.

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