por José Maria Correia

Perdemos Alcidino Bittencourt Pereira.
Que belo personagem e raro ser humano.
Tive o grande privilégio de ser seu amigo por toda a vida.
Uma criatura doce e muito generosa.
Com voz mansa como a de outro grande amigo o Procurador José Carlos Coelho.
Intelectual, socialista, escritor , culto, sedutor, músico e violinista.
Como dizem os franceses , “Un homme à femme “ alguém
devotado às mulheres.
Ecologista e velejador
Mantinha uma bela casa na Ilha do Mel onde recebia os amigos no recanto mais lindo, a Praia do Farol .
Bom vivant e cozinheiro dividia a mesa farta com quem chegasse em seu quintal sem cercas ou divisórias, surfistas, caiçaras, hippies, pescadores.
Alcidino mesmo era um neo-hippie.
Com uma espessa barba , o rostk queimado pelo sol e um lenço na cabeça lembrava um pirata dos filmes antigos de Errol Flynn ou Johnny Deep como o Capítão Sparrow.
Alcidino era arquiteto e advogado e seu irmão Alcides foi presidente da Ordem dos Advogados.
Pela cultura e capacidade , Alcidino foi chamado pelo então Ministro do Desenvolvimento Urbano Deni Schwartz para ser o seu braço direito em Brasília, um Vice-Ministro.
Era maravilhoso ouvi-lo executar uma sonata clássica de Mozart ou Paganini entre os atribulados despachos no gabinete do Ministério , quando todos faziam silêncio para ouvir a magia do instrumento.
Participou também do governo de Mauricio Fruet na Prefeitura de Curitiba presidindo o IPPUC e do de Requião na direção da COMEC , sempre com ideias modernizadoras para a cidade.
E em Paranaguá foi o responsável pela revitalização de parte do calçadão e da Praça do Rio Itiberê com um projeto que lembra um grande veleiro deixando o porto.
Teve a gentileza de me acompanhar como meu Secretário Especial em Matinhos quando estive Prefeito e apresentou soluções urbanísticas e projetos de mutirões, operações concentradas e integração nos bairros populares que executamos fazendo “ barba, cabelo e bigode” ou todos os serviços de urbanização essenciais de ponta a ponta onde a prefeitura nunca havia estado.
E ainda juntos e em convênio com o estado e a União trouxemos para Matinhos a magnífica Universidade do Litoral com ensino gratuito para toda a população e os filhos dos pescadores, um verdadeiro gol de placa.
Na juventude por suas convicções socialistas e ideológicas e as defesas da igualdade social e o estado de direito, Alcidino esteve exilado na Europa onde frequentou Universidades na Alemanha e estudou em outros países onde se tornou poliglota e constitui família e filhos.
Retornou para o Brasil com a Anistia.
E aqui permaneceu com muitas décadas de convívio, amizade, trabalho e romances .
Quando retornou para a Europa já estava idoso e bem adoentado e foi cuidado pela filha.
Como homem de grande sensibilidade espiritual escolheu partir ontem deste mundo na bela Itália e na cidade de Assis, a de Francisco, o santo da Ecologia , causa a que Alcidino dedicou toda sua vida com grande amor , ao próximo , ao planeta e aos seres viventes.
Já em estado terminal Alcidino deu seu último suspiro, dia 26 de Dezembro sentindo os ventos da região da Úmbria, que tanto o inspirava e deixando em nós seus amigos as saudades imorredouras e o silêncio do violino e o som da sonata de Beethoven em nossas mentes , cada vez mais solitárias e mais caladas.