9:53Uma hora ele desemburra

por Voltaire de Souza

Aos poucos, surgem sinalizações capazes de dar confiança ao mercado financeiro

Dúvida. Ansiedade. Inquietação.
O mercado se agita.
No Banco de Investimentos Arrank, os prognósticos eram divergentes.
—O Lula é muito de esquerda.
—Mas está indo para o centro.
—Você acha?
Gráficos. Tabelas. Reuniões.
—Pessoal, a gente precisa decidir.
Um relatório deveria ser entregue em poucos dias aos privilegiados clientes da instituição.
O pepino ficou nas mãos de Luizito.
Talentoso e promissor analista financeiro.
—E agora?
O rapaz tinha certo pendor para o misticismo.
Madame Ramíris era uma famosa vidente argentina.
—Ela já acertou muita coisa nessa área.
—El tarô de Chacabuco. Mucha precissión.
Os dedos da cartomante fulgiam com anéis de todas as cores.
—Bamos, Luicito. No hay nada que temer.
Ela abriu a primeira carta.
—La Muerte.
—Caraca.
—El Cobid. Vuelve con certessa.Símbolos místicos se sucediam sobre o veludo grená.
Duas caveiras cruzadas.
–Los Guerreros del Altiplano.
Um jumento no teto da igreja.
–El Gran Profesor.
Uma senhora sentada no galho de uma árvore.
–La Defensora.
O sapo pendurado na forca.
–El Condenado.
—Mas o que significa tudo isso, Madame Ramíris?
Veio a última carta.
—Aqui está la solución para todos tus problemas, Luicito.
Um senhor sentado em cima de uma pedra. Pose de tristeza e reflexão.
—El Emburrado.
—Você quer dizer…?
—Hair Bolsonaro. Es necessário esperar un poquito.
—E aí?
—Luego viene de retorno. E todos tus problemas se acaban.
Luizito respirou aliviado.
—Mantendo a calma, a gente se vira.
Os humores do mercado são assim mesmo.
Por vezes, bate um desânimo.
Mas logo a euforia toma conta.

*Publicado na Folha de S.Paulo

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