6:14O lado sombrio do brasileiro médio

por Célio Heitor Guimarães

O resultado das eleições do domingo remete-me ao texto do sociólogo Ivann Lago, “O Jair que há em nós”, escrito em fevereiro de 2020 e reproduzido no blog do Zé Beto dias atrás.

Para Ivann, “Bolsonaro é uma expressão bastante fiel do brasileiro médio, um retrato do modo de pensar o mundo, a sociedade e a política que caracteriza o típico cidadão do nosso país”.

Ao citar “o brasileiro médio”, Lago refere-se à sua versão mais obscura e mais realista, de acordo as pesquisas dele e a sua experiência.

Argumenta:

“No ‘mundo real’ o brasileiro é preconceituoso, violento, analfabeto (nas letras, na política, na ciência… em quase tudo). É racista, machista, autoritário, interesseiro, moralista, cínico, fofoqueiro, desonesto.” Tal qual o capitão imbrochável.

Apesar dos avanços civilizatórios vividos pelo mundo, com políticas públicas de inclusão, de combate ao racismo e ao machismo e de criminalização do preconceito, segundo o citado sociólogo, a descriminação, o racismo, o machismo e o preconceito sobrevivem no imaginário da população brasileira, no cotidiano da vida privada, nas relações afetivas, nos ambientes de trabalho, nas redes sociais, nas piadas diárias e nos comentários entre amigos.

Reprimido por anos, o brasileiro médio, desgraçadamente – escreve Ivann Lago –, sentiu-se representado por Bolsonaro, um candidato/presidente que ofende as mulheres, os homossexuais, os índios, os nordestinos, o Judiciário, a imprensa, “através de um palavreado vulgar, frases mal formuladas, palavrões e ofensas”.

E vai além, destacando que o dito brasileiro médio “se sente importante quando seu ‘mito’ enaltece a ignorância, a falta de conhecimento, o senso comum e a violência verbal para difamar os cientistas, os professores, os artistas, os intelectuais, pois eles representam uma forma de ver o mundo que sua própria ignorância não permite compreender.”

Esse “brasileiro médio” – na conclusão de Ivann Lago – “não entende patavinas do sistema democrático e de como ele funciona, da independência e autonomia entre os poderes, da necessidade de isonomia do judiciário, da importância dos partidos políticos e do debate de ideias e projetos que é responsabilidade do Congresso Nacional. É essa ignorância política que lhe faz ter orgasmos quando o Presidente incentiva ataques ao Parlamento e ao STF, instâncias vistas pelo ‘cidadão comum’ como lentas, burocráticas, corrompidas e desnecessárias. Destruí-las, portanto, em sua visão, não é ameaçar todo o sistema democrático, mas condição necessária para fazê-lo funcionar.”

Assim pensa o “brasileiro médio” – muito bem representado pelos eleitores paranaenses e catarinenses – e aí está porque elegeu o Messias em 2018 e deu-lhe uma poderosa votação no 1º turno de 2022. Daí a razão de serem eleitos sabujos bolsonaristas, como Pazuello, Salles, Damares, Tereza Cristina, Marcos Pontes, Mourão, Zema e Cláudio Castro.

“Por isso – arremata o sociólogo – “não basta perguntar como é possível que um Presidente da República consiga ser tão indigno do cargo e ainda assim manter o apoio incondicional de um terço da população. A questão a ser respondida é como milhões de brasileiros mantêm vivos padrões tão altos de mediocridade, intolerância, preconceito e falta de senso crítico ao ponto de sentirem-se representados por tal governo.”

Com profunda tristeza, sou obrigado a concordar com o raciocínio e as conclusões de Ivann Lago. No entanto, tenho grande esperança que, no segundo turno do pleito presidencial, a outra face da média de brasileiros, aquela – na qual me incluo – que não compactua com o retrocesso, com os desmandos, com o desgoverno e com o desatino comandados pelo insano imbrochável de Brasília, desaloje-o definitivamente do Palácio do Planalto, em nome da democracia, da brasilidade, da maturidade política e da união nacional.

5 ideias sobre “O lado sombrio do brasileiro médio

  1. Fausto Thomaz

    Então um “brasileiro superior” apoia um ex presidiário, ladrão e bebado??? Prefiro ser o médio mesmo.

  2. Jose.

    E o candidato que representa esse tal “brasileiro médio” falou algumas coisas inaceitáveis não é mesmo? Por exemplo:
    – “Quer bater em mulher? Vá bater em outro lugar”
    – “Mapear o endereço de cada deputado” e “incomodar a tranquilidade deles”
    – “Nós temos uma Suprema Corte totalmente acovardada, nós temos uma Superior Tribunal de Justiça totalmente acovardado, um Parlamento totalmente acovardado”
    – “Pelotas é a cidade polo, né? Exportadora de viados, né”
    E sobre racismo então, nem vou falar nada, basta olhar o resultado dos votos dos tais “brasileiros médios”;
    https://www1.folha.uol.com.br/amp/poder/2022/10/partidos-que-mais-elegeram-deputados-federais-negros-sao-de-direita.shtml
    Votar em A ou B é um direito de cada um, inclusive o de não votar em nenhum deles, mesmo agora, aliás continuo nessa alternativa, não sou obrigado a escolher entre dois bandidos qual é o “menos pior”. Mas tentar demonizar quem vota em A ou B não é um bom caminho.
    Você é melhor que isso, ache justificativas melhores.

  3. Sergio silvestre

    José se vai de novo votar no Amoedo rsrsrsr eu já acho que você vai votar naquele que te espalha ,no Mentiroso .

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