por Voltaire de Souza

Para alguns, não basta torcer para Bolsonaro; é preciso também comprar mansão

Fatos. Números. Expectativas.
Não é apenas a disputa eleitoral.
Também a mega-sena agita a esperança dos brasileiros.
Valdemir apostava firme.
—Não se trata disso. Sou um investidor.
Uma grande quantidade de cartões se espalhava em sua mesa de trabalho.
—Quanto mais alto o prêmio, mais eu aposto. Lógico.
As semanas se seguiam
—Ótimo. A bolada sempre acumulando.
Valdemir dava um risinho.
—A primeira coisa que eu vou fazer com o dinheiro vai ser uma festa pro Bolsonaro.
Ele contava com a vitória do seu candidato.
—Depois, compro uma mansão lá perto do filho dele.
Residências de alto luxo são, sem dúvida, as preferidas do clã
A quarta-feira chegou com otimismo no escritório de Valdemir.
—Praticamente garantido o nosso sucesso
Os resultados chegaram pelo celular
—Zero três… vinte… espera aí.
Foi implacável o resultado final.
—Nada? Nadinha
Ele manipulava os cartões de modo febril.
A mulher reclamava.
—Vem dormir, Valdemir. Que coisa.
Logo de manhã, dona Sandra deu pela ausência do marido.
—Ué. Já saiu de casa?
Ela teve o pressentimento.
—O revólver. Será que ele levou também?A gavetinha do criado-mudo estava vazia.
—Só o cartãozinho de Santo Expedito.O gerente da Caixa Econômica foi quem teve mais dor de cabeça.
—Exijo auditoria. Que diabo de loteria é essa? Cadê a prova do sorteio?
Foram chamados os seguranças Otoniel e Damiana.
Valdemir tentou alguns disparos.Janelas de vidro blindado e dispensadores de álcool gel foram as principais vítimas do ato de resistência.
—Podem ficar esperando. Que no sábado eu volto.
Apostas, por vezes, são como tiros de pistola.
Quando o erro é grande, não é tão importante fazer perícia.

*Publicado na Folha de S.Paulo