8:29Traz a cloroquina

por Voltaire de Souza

Apesar das pesquisas, atriz bolsonarista não perde o gingado e o otimismo

Nervosismo. Ansiedade. Preocupação.
É tempo de pesquisas eleitorais.
O clima era tenso no comitê do candidato.
—Desse jeito a gente perde no primeiro turno.
—Ainda tem chance de organizar um golpe?
—Cara, aí a gente perde o emprego…
—Será que general não precisa de marqueteiro também?
—Difícil, Roberto. Difícil
Chegavam as últimas informações.
—Cara… viu a situação na região Sul?
—Só tocando um tango argentino.
Foi o momento em que um perfume envolvente se fez sentir na sala de reuniões
—Oiêê!! Adoooro tango… “Volveeeer”…
Tratava-se de uma famosa atriz televisiva.
Fiel apoiadora do candidato em queda.
—Que desânimo é esse, gente
—As pesquisas não estão boas para a gente…
—Ué… E daí? E daí, gentêêê…
Os marqueteiros ficaram em silêncio.
—Alegria, Roberto, meu querido.—Mas…
—Se perder, faz parte da vida… pra quê ficar chorando?
—Você também acha que a gente está mal?
—Mal? Estamos ótimos. Como é mesmo a musiquinha?
—Qual?
—”Pra frente Brasil, Brasil…”A simpática atriz começou a dançar com inegável poder de encantamento.
—Bolsonarôôô… ganhou, ganhou… e daí?
Ela abriu um pequeno frasco de cristal.Roberto ficou curioso.
—Será que ela deu de beber?
—É cloroquina, gente… isso cura qualquer depressão.
Roberto respirou fundo.
—Me dá uma dose dupla.
E deu instruções ao garçom Dagoberto
—E traz a vodca também. Para misturar.
O médico já disse para ele parar de beber.
—Bobagem. Com meu físico de ex-atleta, eu tomo todas.
A esperança política, por vezes, é como os mortos da pandemia.
A hora do enterro demora para chegar.

*Publicado na Folha de S.Paulo

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