por José Maria Correia
Mesmo com toda minha dificuldade e reconhecida ignorância em relação à compreensão da fé, tenho minhas crenças, não crendices, é claro.
Mantenho meu distanciamento crítico dos rigores dos dogmas , do celibato e das liturgias conservadoras
Sou um livre pensador que busco desesperadamente a fé, mesmo na relatividade e no desafio da ciência .
É uma forma simples de viver , fruto das minhas contradições.
Sempre em reflexões nos momentos interiores mais difíceis e conflituosos.
E assim em solidão , é que faço meus exercícios espirituais com orações, mantras e meditações.
Que no mais das vezes , são apenas silêncios profundos .
Onde me refúgios sempre liberto de restrições e de amarras.
Seja como filosofia , seja como busca , ou na tentativa do encontro com a espiritualidade.
É nessa linha que sigo o que aprendi com minhas referências -Dom Helder Câmara, com o padre e poeta telúrico Ernesto Cardenal, com o frei Leonardo Boff , com os reverendos James Wright e Elias Abrahão e com o Papa Francisco,
Gente bondosa como eles , pessoas que influenciaram o mundo adorando amorosamente Deus, como Martin Luther King , o bispo Desmond Tutu e o Mahatma Gandhi.
E insubmissos foram mesmo através da não-violência.
E da mesma forma e ao inverso, me horrorizo com os líderes religiosos da mais alta hierarquia e do luxo, que vivem na cumplicidade da pregação do ódio, do preconceito e do terror .
Que nos subterrâneos dos palácios celebram as mais tenebrosas transações .
Que perseguem as minorias com soberba e condenações.
Os charlatães , exploradores da ignorância e da miséria , que com seus ilusionismos vendem ingressos para as portas do paraíso para se tornarem milionários.
Os fariseus modernos , como aqueles que Cristo expulsou com chibatadas dos portais dos templos .
Na minha escolha fico sempre com os que buscam o cristianismo primitivo, a paz do budismo, o sincretismo das religiões dos afrodescendentes .
Os deuses da paz , das águas e das cachoeiras, dos elementos , do sol , da lua e do universo que todos contemplamos .
Da integração cósmica.
Desde os nossos povos indígenas das florestas.
Parece simples, mas não é .
As ditaduras se servem e se justificam no atraso das religiões e de seus falsos profetas.
Uma apropriação e uma aliança orquestrada no conservadorismo mais retrógrado.
Como foi no golpe da ditadura militar de 1964 no Brasil, no Chile , na Argentina e que vitimou tantos jovens padres e pastores que se opuseram e foram martirizados
Havia duas igrejas , as que estavam ao lado dos torturados e perseguidos , e os que estavam ao lado dos torturadores e perseguidores , as dos reis e das rainhas das diásporas e das inquisições..
Como hoje no lema,
“ Deus Acima de Tudo “
Mas que Deus será esse …
O das armas , de Pizarro e de Torquemada, de Franco e de Brilhante Ustra
O das hóstias dos choques elétricos.
Dos corpos desfigurados nas valas .
Dos Órfãos do Talvez.
Do escárnio dos que morreram sufocados por falta de oxigênio.
Não, certamente não
Esse é o demônio.
Aquele que o Frei Leonardo Boff descreveu como a encarnação do mal no ser humano.
A presença física sobre a terra do senhor das trevas,
Dos cavaleiros do Apocalipse, da fome , do frio e do medo.
Da corrupção que condena o povo à ignorância, ao desespero e à desesperança.
É esse tipo de demônio que estamos enfrentando hoje , o que surge com as milícias da morte , da violência e da crueldade.
Mas que haveremos de vencer
Com o fogo da paixão das boas causas.
As grandes massas estão se mobilizando com a revolta do organismo, do estômago vazio, do coração emocionado e do cérebro indignado , postos em um mundo e uma sociedade de privações.
Da agiotagem oficial .
Da entrega do solo , do subsolo e de todas as riquezas e valores da pátria.
Vivemos em agonia e no sofrimento dos que esperam .
Esperando deixar de ser vividos para passar à uma existência plena
De amor de solidariedade , de esperança e de fraternidade .
Que virá com a força das sementes da primavera
E com o despertar dos nossos sonhos e de nossas emoções.
Texto perfeito de quem busca entendimento até mesmo em conceitos tão primitivos, de deuses que castigam ou recompensam com riqueza quem frequenta seus templos.
O ser humano quanto mais evolui mais confuso se torna e vale aquele pensamento de Sócrates *quanto mais sei, mais sei que nada sei*