por Ricardo Araújo Pereira

Talvez a sepultura possa se tornar também uma divertida dificuldade nos torneios da PGA Tour

Eu costumo guardar as faturas por causa dos impostos. Donald Trump guardou o cadáver da ex-mulher. Segundo a revista Fortune, isso fez com que ele deixasse de pagar seis categorias diferentes de impostos.

Parece absurdo, mas não é. Pedir uma fatura é simples e fácil; requisitar o corpo de um ex-cônjuge defunto revela uma obstinação que deve, de fato, ser premiada com uma isenção fiscal bem ampla.

O que se passou foi o seguinte: a primeira mulher do antigo presidente dos EUA, Ivana Trump, sofreu uma queda em sua casa e morreu. Seguiram-se cerimônias fúnebres em Manhattan, mas o corpo foi enterrado em Nova Jersey, no clube de golfe de Bedminster, detido por Donald Trump.

Ora, em Nova Jersey, propriedades registradas como cemitério não pagam impostos, e a lei não especifica o número de túmulos necessários para que um cemitério seja um cemitério. Muita gente ficou incrédula com a desfaçatez de Trump; pessoalmente, fiquei incrédulo com o fato de ele ter demorado a aproveitar esta oportunidade.

Até agora, os três filhos que Donald Trump teve com Ivana não disseram uma palavra sobre o fato de a mãe ser sepultada num campo de golfe para efeitos de isenção fiscal do pai. Talvez a outra hipótese fosse moer o corpo da morta para fazer hambúrgueres, e eles tenham considerado que a sepultura no campo de golfe era, apesar de tudo, a forma menos indigna de o pai retirar benefícios financeiros do cadáver de Ivana.

E agora Ivana repousará eternamente no prestigiado campo de golfe do Bedminster Club. Talvez, de vez em quando, uma bola perdida vá ter à sua sepultura, e um golfista azarado tenha de jogar a partir do seu túmulo.

Os bancos de areia são obstáculos clássicos que os golfistas têm de ultrapassar, mas talvez as campas de ex-mulheres de Trump possam passar a ser também uma divertida dificuldade nos torneios do circuito da PGA Tour.

Chamem-me romântico, mas não consigo deixar de me comover com esta união de dois ex-cônjuges, mesmo após a morte: Ivana foi para o paraíso, mas deixou Donald no paraíso fiscal. Quem não se emociona com isto tem o coração de pedra.

*Publicado na Folha de S.Paulo