Seis meses sem visitas. Sem problema. Sempre estive longe deles, mesmo perto. Pensei nisso enquanto estava amarrado à cama, depois de ter tomado o que chamamos no hospital psiquiátrico de “amansa louco”. Me pegaram enroscado no arame farpado em cima do muro. Se eu pulasse para a calçada da liberdade, me rasgaria todo e, com certeza, quebraria as pernas. A vida. Talvez a revolta tenha acontecido por causa da soja. Todo dia a comida era essa. Mil no refeitório que lembrava algumas imagens em fotos de história. Tinha pouca gente que babava. Todos ruminavam. Dei um grito. Não sei como escalei a parede. Saí da amarração uma semana depois. Então eles apareceram. Era um sábado. Dia de sol. O pátio era grande. Eu tinha família. Foi uma descoberta. Penso nisso enquanto rego as flores do jardim da nossa casa.