por Ruy Castro
Ele teve a Exposição do Centenário, os 18 do Forte, direita vs. esquerda e muito mais
Surpresa! Finalmente nos lembramos de que, a 7 de setembro de 1922, o Rio inaugurou a Exposição Internacional do Centenário da Independência. Foi uma festa da tecnologia e do pensamento, com 14 países presentes, dez meses de duração e três milhões de visitantes.
A Exposição sediou 29 congressos, nos quais se discutiu da indústria pesada à proteção das crianças. Estabeleceram-se intercâmbios, fecharam-se negócios e cientistas brasileiros e estrangeiros se aproximaram. Conhecemos a meteorologia, a estatística e o rádio e regulamentou-se a profissão de arquiteto. Abrigou o primeiro Congresso Feminista e teve até literatura —Gilka Machado fez conferência sobre as escritoras brasileiras. Para muitos, a Exposição representou o verdadeiro encontro do Brasil com a modernidade.
Foi o maior acontecimento de um ano já marcado por eventos que dividiriam a história do Brasil, como a criação do Partido Comunista, por Astrojildo Pereira, em março, e do Centro Dom Vital, por Jackson de Figueiredo, em maio —ali se oficializaram a esquerda e a direita no país. Em junho, os portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral completaram o voo Lisboa-Rio, na primeira travessia aérea do Atlântico Sul. E, em julho, 18 heroicos oficiais saíram do Forte de Copacabana, a pé, pela praia, contra as oligarquias, e levaram bala das tropas federais. Tudo isso aconteceu no Rio.
O Rio de 1922 e a Exposição do Centenário são o tema de uma modesta mostra recém-aberta no Museu Histórico Nacional, no Castelo. Modesta, mas rica. Nela veem-se o filme original da Exposição, a intensa cobertura da imprensa, o show gráfico das capas de revistas cariocas e, ao fundo, a trilha sonora da cidade: Villa-Lobos, Nazareth, Pixinguinha e a pioneira canção de protesto, “Ai, Seu Mé”, contra Arthur Bernardes.
Ah, sim. O esplêndido Museu Histórico Nacional também foi fundado em 1922. Grande ano.
*Publicado na Folha de S.Paulo