Não foram as 33 milhões de pessoas que estão passando fome no Brasil. Não foi a inflação descontrolada. Colaborações científicas? Projetos na educação? Acordos comerciais? Nada disso. Num encontro privado com Joe Biden, a preocupação de Jair Bolsonaro foi pedir ajuda para sua reeleição.

Assim mesmo, escondido. Por debaixo do pano. Em sintonia com os cem anos de sigilo que adota nos assuntos incômodos, com os gastos do cartão corporativo, com o orçamento secreto.

Agir por debaixo do pano para continuar presidente mesmo perdendo a eleição parece ser a única promessa de Bolsonaro que permanece de pé. Uma obsessão. Em qualquer evento, coletiva de imprensa, quermesse ou chá de revelação, este parece ser o único assunto de Jair. Não sabemos se o Brasil vai vencer a Copa do Mundo, mas sabemos que o Brasil vai tentar um golpe de Estado em outubro.

Eis uma inédita tentativa de implementar uma ditadura em que o golpista envia um save the date. Entrega, em mãos, o convite para amigos e presidentes de outros países. Anuncia o evento todos os dias pelos meios de comunicação. Escolhe os padrinhos.

Os preparativos estão a todo vapor desde 2019. A imprensa é diariamente desacreditada com fake news e informações fora de contexto distribuídas a milhões de pessoas. Instituições importantes foram coagidas a abrir mão da autonomia em nome da fidelidade personalista. Regras foram desmontadas. Mecanismos de controle, dilacerados. Aos inimigos, a lei. Aos amigos, o porte de arma.

Ao desacreditar diariamente as urnas eletrônicas, Bolsonaro não precisa de provas para estimular sua base com sua arma mais eficaz: o medo. Basta criar um mal-entendido no dia das eleições, uma mísera urna com defeito, um mesário com dor de barriga, um eleitor que tenta inserir o número de Bolsonaro na opção “governador”.

O cerimonial já fez o seu trabalho. Está tudo ensaiado. Basta uma faísca. Um disse-me-disse para o DJ do Golpe abrir a pista com música sertaneja. Apoiadores próximos de Bolsonaro já definiram a maquiagem, o cabelo e a roupa que vão usar.

E você, leitor? Está levando a sério o save the date? Bloqueou sua agenda? Que roupa você vai usar no dia da tentativa de golpe de Estado? O que mais vai fazer?

*Publicado na Folha de S.Paulo