Na foto 3×4 da carteira de trabalho de minha mãe vi minha boca. De carteira, como definiu perfeitamente uma tia. Lábios finos, sempre juntos, caídos nas extremidades. Três por quatro também são retratos em palavras numa série que não é isso que está aí. É Millôr, aquele. Guardo as cadernetas com notas vermelhas do ginásio, colegial, uau! Todos estão indo embora e elas ficando para que as abra e seja invadido – e mais rápido do que qualquer geringonça dessas de agora, veja as cenas que constroem a vida. Armando Nogueira repetindo sempre que escrever sobre o passado é ótimo, porque a gente edita. Minha mãe era triste? Não. A maior comediante que já vi atuar no presencial, como dizem hoje. Não ria, enquanto rolávamos pelo chão com suas tiradas repentistas, seus palavrões sonoros e poéticos. E a boca de carteira lá. Dentro, o tesouro. Que vi, senti, amei, amo – e agora confirmo.