DIÁRIO DA GRIPEZINHA
Depois da missa, aqui no condomínio, começa a profilaxia de um trocar santinho com outro. Tem santo que só o Alucinado tem. E procura fazer inveja: “Olha, eu tenho Santo Engels, foi o russinho quem me deu. O Santo Marx posso trocar, tenho duplo”. E nós, pobres que somos, só temos os santos tradicionais: Santo Inácio de Loyola, que escreveu uns romances porretas; Santo Governador do Estado, que aquilo é um santo! Santo Aras, que até pensei que se escrevia com H na frente. E, é claro, a santa do mamoeiro-que-viu-Jesus. Goiabeira, que vá. Até então, o Alucinado tinha santos que o russinho não tinha dado pra ele, e que vinha colecionando desde os tempos de quartel. Santo Rudolf Hess apareceu uns tempos, depois parece que guardaram ele, não apareceu mais. Santo Himmler o cara foi encontrar chapado de coca num beco atrás da cervejaria dos boches. Tinha o Santo Hilário Hubrichzeinen e o Santo Adolf Huhnlein, parece que tinha coisa entre os dois. tipo assim brincavam de noivinha. Diz-que eram papos que escorriam entre uma cavalgadura e outra e que agora faziam a delícia do colecionador de nadas. E nós, piás de prédio, achávamos aquilo tudo muito estranho. Isso de o cara revirar os olhinhos quando falava nessa gente. Tipo assim a Carmem Miranda. Não que ela falasse nessa gente. Mas vivia revirando os olhinhos. Por que não tinha também Santa Carmem Miranda? Até fiz a pergunta pro cara, se ele não tinha nenhuma mulher santa na coleção dele. Desconversou e foi trocar suas figurinhas alhures.