6:23NELSON PADRELLA

POEMA DA AMADA MINHA

Então, ficamos assim – dou para ti, dás pra mim.
Fazemos troca-troca de poemas
Te dou minhas manhãs vazias e tardes mansas
meu nada existencial, essa porra toda
Me entregas, mãos abertas, a dor da saudade
sei lá, mil coisas. Papai Noel, renas, coelhinho
da Páscoa, crianças brincando na neve.
De leve
para que não doa em mim a tua dor.

Nos presenteamos palavras
ocas como o que se diz aos que sepultam seus mortos
E esta coroa de poemas como uma corbelha mortuária
a adornar nossas frontes de heróis falidos?
(ao menos fôssemos heróis fálicos!).

A minha dor não dói, ela é só bela
A dor que dói é a da intolerância americana
o horror da chacina, o terrorismo mundial
perpetrado pelo Departamento de Estado.
Mas a essa dor não se pode rimar flor
nem amor
só terror, mas terror não cabe em poesia,
amada minha.

Ouves esta música que só eu ouço?
Vês estes anjos que só eu vejo
esvoaçando como mariposas adiposas?
Sim, tu os vês com os olhos d`alma
que são mais propícios à poesia.
Tu sentes tudo o que sinto
posto que és meu ego
meu enorme eu-mesmo auto-amando-se.

Venha, vamos trocar mais uns poemas
eu dou para ti, tu dás pra mim
Vamos sair por aí, mãos dadas, cantando
que somos os melhores poetas do pedaço.

Meu umbigo é do tamanho do mundo
o que eu faço penso escrevo
o que monologo comigo, álogo
logo, insisto – é o mundo com tijolos de cristal
meu mundo – meu umbigo.
Meu umbigo – meu mundo.

3 ideias sobre “NELSON PADRELLA

  1. L.H. Bona Turra

    Belíssimo poema. Construção de gênio da existência e de sua expressão na linguagem.

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