6:32CARLOS CASTELO

E eu só quero morar bem. Bem longe do Brasil.

O único roteiro de longa que escrevi era um misto de “O Ano Passado em Marienbad” com “O Exorcista”. Virou gênero: cinema de arte do demônio.

Trabalhou a vida toda como carteiro, nunca teve um amor correspondido.

Bastou abrir a sociedade anônima para ficar famoso.

Minha vida não chega a ser ficção, mas é quase um  docudrama.

Os preços estão nas nuvens, até a passagem de ano ficou mais cara.

Quem sabe de mim sou eu e o imposto de renda.

Sempre viveu com canalhas. Até depois de morta continuou na companhia de vermes.

Tão mórbido que seu clínico geral é um médico legista.

Eu me mudei para um apartamento tão apertado que a única coisa enorme que tem lá é a vontade de sair.

A originalidade da minha obra reside no fato de nem obra ela ser.

Filhos de Caetano estacionam carro no Leblon e entram na Igreja Universal.

Esse governo é que nem classificação de filme brasileiro: só tem droga, violência e linguagem imprópria.

A pessoa ser antiVasco, tudo bem. Mas antivax, eu bloqueio.

Quanto mais se oprime, mais se cochicha.

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