19:46Copo de cólera

de Ticiana Vasconcelos Silva

Calar a noite
Como quem quer falar
Que por detrás do açoite
Há sempre o mar
Em um sonho que adormeceu
De tanto sonhar
Quem vê por meus olhos
Senão o esperar
Que o sol se acolha
Para não matar
O que dorme com fome
O que escolhe deitar
Na lama do abraço
Que rompe um olhar
Sóbrio, lânguido
E da lua a estar
Sobre os esgotos
Da cidade a nunca chegar
No sertão que escorre
Para não secar
Sou pormenorizada
Por sempre inventar
A palavra nobre
Que vai resgatar
O que foi um nome
Que não se soube pronunciar
Prenuncio o beijo tardio
E o medo foi calmo
Como um rio vazio
De homens que comem
Pedras quentes de ardil
Ardem as notas
Da música a tocar
Longe como um monge
Que não soube perguntar
Ouço respostas dessa falsa intuição
E quando peço um copo d’água
É para minha dimensão
Aguar o seu jardim
Na minha imensidão
Planto cóleras
E colho a sensação
De que sou uma meta
Que não viu solução
E a minha festa
É ser solidão
Na noite que fala
Silêncio e tempo
Oração

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