6:33NELSON PADRELLA

DIÁRIO DE UMA GRIPEZINHA

“Isso aqui não é uma Universidade” – fez ver a síndica. Todos olhamos, espantados, para a autoridade. Maninha, uma solteirinha de idade provecta, pôs-se a chorar, que aquilo pra chorar era mais fácil que puxar pena de galinha e vir o galinheiro todo. “É uma escolinha furreca que tem a sagrada missão de alimentar minha conta bancária”. Isso ela não disse e nem precisava. Olhou para cada um de nós, procurando alguém que tivesse cara de culpado. Maninha se esbaldava a chorar, parecia que o mundo ia se acabar. Aforante o som emitido pela lamuriante, ouvia-se apenas o pesado respirar do tempo. Dona Humildes aguardava com paciência o momento de entrar em cena. Era seu dia de dar aula, o que lhe conferiria alguns trocados. Acabou não dando a aula e perdeu a boquinha. “Isso aqui não é uma Universidade” – tornou a falar nossa líder. O choro de Maninha era tão alto e entrecortado de soluços que fui lá e apertei uma teta, que era para a coitada voltar à real. E a síndica, aos berros: “E então? Quem foi que plantou maconha no jardim do condomínio?” Maninha, entre soluços e fungadas de nariz, respondeu: “Me disseram que era orégano”.

Filme: A ÚLTIMA TEMPESTADE (Peter Greenaway dirigiu em 1991) John Gielgud, Michel Blanc, Erland Josephson, Isabelle Pasco e Michael Clark). Tio Zim comanda o elenco de saltimbancos nesta comédia amarga de Greenaway. Depois de ficar um tempão nesse chove-não-molha resolveu botar as manguinhas de fora e atacar a tribo do outro do rio. Dizem que o país registra a última tempestade em copo d’água de Tio Zim.

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