Do enviado especial
O empresário Cláudio José de Oliveira, batizado de Rei do Bitcoin e preso pela Polícia Federal no mês passado por aplicar golpes que chegariam a R$ 1,5 bilhão, conseguiu enganar até o escritório norte-americano Alvarez & Marsal, do ex-juiz Sérgio Moro. Pelo menos é isso que consta do relatório produzido pela PF e que embasou a denúncia criminal contra o empresário.
No dia 17 de dezembro de 2019, quando pretendia levar adiante uma proposta de recuperação judicial para o Grupo Bitcoin Banco, Oliveira promoveu uma reunião na qual participou, entre outros, um representante do escritório Alvarez & Marsal, contratado para assessorar a reestruturação. Oliveira então apresentou uma chave que daria acesso aos investimentos do Bitcoin Banco. Consultada, a blockchain da criptomoeda Bitcoin confirmou mesmo que a chave 1EWw4JK7Y47vXq4wnJMtkCGFnPB87KK4AA apresentava saldo de 7.000,999 bitcoins, o que daria hoje cerca de R$ 1,7 bilhão.
Convidado a realizar uma operação de compra e venda para confirmar a possibilidade de movimentação da conta, Cláudio José de Oliveira alegou que o Grupo Bitcoin Banco estava com os serviços da Amazon interrompidos por inadimplência e não expôs nenhuma transação. Mas comprometeu-se em regularizar a situação em duas semanas. O tempo passou e nada aconteceu. Até a Polícia Federal assumir o caso.
Foi a PF que descobriu que a tal chave de acesso a um investimento bilionário nada tinha a ver com o Bitcoin Banco. “Os valores da carteira 1EWw4JK7Y47vXq4wnJMtkCGFnPB87KK4AA foram originados de transações
envolvendo a exchange XAPO, sediada em Hong Kong”, concluiu o relatório assinado pelo delegado Filipe Hille Pace. Ou seja, o Bitcoin Banco nunca foi dono do investimento.
Segundo a PF, o acesso a essa chave possivelmente foi obtido com o uso de um aplicativo chamado Electum, que permite ao usuário visualizar as chaves das operações registradas com criptomoedas, mas não a sua movimentação, já que cada carteira tem uma senha específica, formada também por uma combinação de letras e algarismos.
Foi aí que caiu a casa do Grupo Bitcoin Banco. Quanto aos serviços do escritório de Moro, o que se sabe é que eles foram interrompidos antes da investigação da PF começar.