DIÁRIO DA GRIPEZINHA
O colégio aqui do condomínio deu de fornecer aulas. Professor é o que não falta. Todos diplomados pela Universidade do Achismo. Daqui de cima escuto: “Tem a ave lã, tem a ave nida e tem a avestruz. A avestruz é uma ave metida à besta. Ela se acha. Sabe quando uma pessoa se acha?” Fiquei esperando a resposta. Ninguém achava era nada. Acho que estavam ali só pela merenda. Como se houvesse merenda. Agora, é a voz da serviçal que se faz ouvir. Mas, Dona Humildes não tinha de estar limpando as escadas? Ouço ela dizer nunca este país esteve em melhores condições, e em seguida, silêncio completo. Mais tarde, me esclareceriam que o silêncio se deveu a uma fruta – coco, acho – que voou da plateia na direção da biltra. O primeiro professor retoma a palavra. Volta a falar de aves: “E onde mora o avestruz? No palácio. E onde mora a ema, que é assim com o avestruz? No palácio também”. Daqui do meu apê ouço o silêncio dos alunos atentos. De repente, uma voz: “Eu nunca vi uma ema, professor”. Outra voz: “eu nunca vi um avestruz”. E a voz do professor: “Nunca viu um avestruz porque ele enterra a cabeça no chão, de vergonha por ter comido croroquinhas”. “E a ema, professor?” “A ema não contempla croroquinhas em sua dieta”. Depois de um silêncio constrangedor: “Profe, não sei se entendi”. E o professor: “E você acha que eu entendi?” Finda a aula, me sai o piá Mico vestindo um guarda-pó, óculos de aro de tartaruga e um bigode pintado em baixo do nariz. A síndica estava à porta e puxou a orelha de Dona Humildes, que já estava de cabeça cocada.
Filme: UM DIA MUITO ESPECIAL (direção de Ettore Scola, com Sophia Loren e Marcello Mastroianni). Adolf Hitler vai à Itália para conhecer seu colega Benito Mussolini. É a Primavera de 1938. Tiozinho bota a farda e a bota dos tempos de quartel. Penteia o cabelo à maneira do cabo austríaco. E avança, impávido – seja lá o que isso signifique – em direção ao espelho e faz a saudação dos galinhas verdes, o anauê.