No bar do Zé do Bode eu vi pela primeira vez. Estava exposto na vitrine de um balcão velho. Era um revólver 38 – e até hoje eu não entendo como o berro estava ali, perto das balas, as doces. Nunca deu bode para o Zé. Ele era um homem enorme e gordo. Ou eu era uma criança miúda e pançuda. Ou os dois. Mas dali também ficou marcada a transmissão, por rádio, da Copa do Mundo de 1958 na Suécia. Depois, muito depois, soube que a rádio era a Bandeirantes e a narração de Pedro Luis e Edson Leite, mas aí é outra história. O dono do boteco de esquina na avenida principal do bairro também tinha um salão de festas. Um dia entrei para um baile infantil de carnaval. Me dá um dinheiro aí jardineira por que estás tão triste. Dias depois vi um tubo de vazio de lança-perfume jogado na calçada. Rodouro. Guardei como se fosse uma joia rara. Se perdeu no tempo como me perdi muitos anos depois. Quase deu bode. Sobrou o Zé.