DIÁRIO DA GRIPEZINHA
Batman de burka, faça-me o favor! Aquela coisa magra de pernas, cueca por cima do agasalho-segunda pele, uma camiseta que mais mostrava do que escondia e onde estava gravada uma caveira. A peça tinha sido doada pelo Fantasma Voador para uma feira de beneficência, e lépido o capitão adonou-se dela, tomado de amores. Vestia-a em todas as ocasiões quando saía para combater o crime, para desgáudio do menino Genésio. Agora, a burka que passou a usar teria deixado o herói ainda mais ridículo, se fosse possível ficar mais do que já era. Para desgáudio de Genésio. O garoto até ficava bonitinho com aquele calção verde musgo debruado com fios imitando prata; a camiseta Hering valorizava os músculos peitorais se ele tivesse músculos peitorais. A letra R, que podia ser Rasputin, Ronaldo Fenômeno ou qualquer outro nome, mais mostrava do que escondia. No rosto crivado de espinhas, a máscara negra, sobra de antigo Carnaval, quando havia carnavais na terra de Iracema. Máscara, mas jamais burka. Foi o primeiro conflito sério do casal. Falei casal sem pensar. O capitão queria que o fiel companheiro usasse burka, por causa que no Exército todos tem que usar roupa uniforme. O garoto fez pé firme. Convocaram a síndica para que decidisse. Ela respondeu da sua janela: “Vocês não têm mais o que fazer além de incomodar?” Foi a única atividade que o condomínio registrou. O dia passou magro de aconteceres.
Filme: O VIOLINISTA QUE VEIO DO MAR (direção e roteiro de Charles Dance, com Judi Dench, Maggie Smith e Daniel Bruhl). O filme conta a história de uma bandinha criada para alegrar as tardes no Planalto. Tinha zampona, tinha cavaquinho, um violão com três cordas e uma gaita de boca. Faltava um violinista. Daí, tiozinho disse assim: “Omar, você que não está fazendo nada, vai me catar um violinista”.