6:54Golpe dos bilhões para o fundo eleitoral é alerta de que dias piores virão

por Vinícius Torres Freire

Dinheirama estimula empreendedorismo partidário e dá mais poder aos empresários das legendas de aluguel

A “nova política” está por toda parte. Chegou ao poder federal com Jair Bolsonaro (“sem partido!”) e ao governo de vários estados, como o Rio de Janeiro de Wilson Witzel, que pelo menos já foi para a cadeia.

Neste ano, os “homens novos” assumiram de vez o comando da Câmara, com Arthur Lira (PP-AL), cúmplice maior do presidente, seu premiê e regente da avacalhação nacional. Esse casamento de inconveniência acaba por gerar uma cambulhada de indignidades, tal como o golpe do fundão eleitoral.

Lira foi eleito com a promessa de dar poder “às bases”, ao baixo clero. Mais poder, na verdade, pois essa turma se tornou cada vez mais proeminente, predominante e poderosa com a multiplicação de partidos negocistas (a partir de 2007, também com a ajuda do STF) e com a degradação decisiva da Presidência da República.

Essa rebelião das massas parece agora desembestada. O aumento do fundo eleitoral de R$ 1,8 bilhão para R$ 5,7 bilhões em 2022 é apenas um sintoma, embora caríssimo (o dinheiro extra equivale a 11% do Bolsa Família).

A dinheirama estimula o empreendedorismo partidário e dá mais poder aos empresários das legendas de aluguel (quase todas das três dúzias), o que incentiva ainda mais a fragmentação partidária, em um efeito bola de lama.

Com tamanho fundão eleitoral e partidário à disposição, por que não abrir a sua franquia e até mesmo alugar a cobertura para um candidato a presidente? Pode dar rolo, com aconteceu entre o dono do PSL e os Bolsonaro. Mas isso é da vida, certo? Negócios têm algum risco, bem o sabiam os piratas que dividem butim.

Os parlamentares avançam sobre a definição do Orçamento como hienas, pois o fazem por meio de emendas picadinhas, obrigatórias e pouco transparentes, em vez de também redefinirem grandes prioridades de despesa. No ano que vem, essa mumunha vai continuar, a julgar pelo que está escrito na Lei de Diretrizes Orçamentárias, aprovada nesta quinta-feira (15).

Os apaniguados de Lira também preparam uma reforma política ou eleitoral que pode perverter ainda mais o sistema partidário. Pretende-se dar uma avacalhada nas cláusulas de barreira (exigência de votação ou conquista mínima de cadeiras para que o partido tenha certas regalias).

Discute-se até a criação do distritão (os votos vão só para os candidatos, não para partidos), com o que as eleições parlamentares vão se tornar uma corrida de celebridades, ricos e representantes do crime (do crime não regulamentado, quer dizer, como facções e milícias).

O empresário partidário, porém, continuaria com o poder de alugar cômodos, ceder vaga na legenda para essa dança dos famosos eleitoral. Se ninguém prestar atenção, vai ser aprovada uma mixórdia sórdida, como era de prever com a chegada ao poder da “nova política”, esse projeto de ruína final do país.

O pacote de jabutis gordos que passou na lei de privatização da Eletrobras e a palhaçada dinheirista que foi a votação do Orçamento de 2021 são outros exemplos da degradação. Não há liderança maior, poderosa e com vergonha na cara para conter a farra.

O governo Bolsonaro não tem projeto político e líderes para negociar um programa legislativo. Não é mesmo capaz de propor projetos com um mínimo de competência técnica e compostura —considere-se o papelucho bisonho que Paulo Guedes quis passar como “reforma do IR”.

Quanto ao Congresso, Bolsonaro apenas arrumou um centrão para chamar de seu e evitar o impeachment. Em troca, Lira e sua turma entregam umas “reformas” mambembes e ficam à vontade para tocar a balbúrdia, para não dizer outra coisa.

*Publicado na Folha de S.Paulo

2 ideias sobre “Golpe dos bilhões para o fundo eleitoral é alerta de que dias piores virão

  1. Pimenta

    um Brasil combalido por crises, de forma rápida na véspera de recesso temos o retrato da maioria dos componentes que representam seus próprios interesses.
    As entidades, as empresas, os cidadãos tem de protestar. Por outro lado, em situação crítica aos que sofreram reflexos da crise e, estão na linha da pobreza ou abaixo tem de suportar o salário mínimo. Repasses e fundos políticos deferia ser atrelado ao salário

  2. SERGIO SILVESTRE

    OS DEPUTADOS QUE EMPUNHAM BANDEIRAS VERDES -AMARELAS VOTARAM A FAVOR E EM 2022 VOTEM NELES DE NOVO

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