12:31ticiana vasconcelos silva

Eu falo sobre sentimentos. Não os meus. Nem os nossos. Algo como quem sabe que na memória da retina há uma história sobre a natureza e os versos ainda guardados. Falo sobre mim quando escrevo? Suspeito que tudo me é contado e eu, ao avesso, transito na envergadura de uma embarcação ao lado contrário da realidade. E como eu faço para não esquecer que um dia os livros foram todos esquecidos? Uma leitura breve de nuvens me faz fixar a memória no interpertencimento (palavra criada). Uma respiração breve e sutil cria tentáculos na alma, que, arraigada aos porões e submersa nas tentações, vigia o meu amanhecer. Saberia eu identificar quantos remédios me aproximaram da despedida? Aqueles que se dão a conta gotas para lembrarmos de quando nascemos e ao abrir os olhos nos deparamos com nosso jeito primordial de sonhar. Um direito adquirido que não prescreve. Mas e as vezes que sumimos atrás das montanhas? Saberíamos encontrar a pedra que jogamos desde o céu para rolar por trilhas verdejantes em que achamos que ela, encontrada, não possui significado nenhum? Um sábio se recordou: eu sou o crime não praticado pela santa beleza a se despir. Suas vestes me cobriram. E quando eu morri pela insônia a me avisar quando iria morrer? Qual foi a minha surpresa ao acordar na manhã seguinte com uma voz anunciando na rádio o último discurso proferido pelo perfeito? Signos significativos redundantes da linguagem verbalizada com os outonos das primaveras. Os ciclos tornaram-se pingos de chuva. Pisei a lama. Nasci ontem e ressignifiquei minha astúcia em me opor ao extraordinário. Não deu em nada. Subi a escada sem nunca descer para pegar cartas na caixa de correios. Porque a minha linguagem é franca. Uma fraca premonição de minhas próprias tendências a viver quando os códigos que decifro virarem o pó que corre sobre os papéis que escrevo. Escrevo já tarde e nunca será suficiente renascer. Até que meu pai perdoe a minha inabilidade de recontar sua história. Porque ele se fez uma só vez nas três vezes que castigou sua própria mensagem. Mas eu me crio toda vez que abraçada a ele digo: voltei.

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