10:36Fábulas da CPI oscilam entre ‘O Amor nos Tempos do Corona’ e ‘Alice no País da Cloroquina’

por Renato Terra

Ciente de que a Comissão Parlamentar de Inquérito vem produzindo ficção em larga escala, a gráfica do Senado anunciou o lançamento da coleção Fábulas da CPI. “As pessoas sentam aqui e começam a inventar histórias do arco da velha. Todo mundo mente e nada acontece. Em vez de produzir um relatório, achei melhor investir meu tempo para criar uma coleção de alta relevância literária”, explicou Renan Calheiros.

Eis as primeiras obras da coleção Fábulas da CPI:

“A Metamorfose”

Certa manhã, ao despertar de sonhos intranquilos, Fabio Wajngarten viu-se numa CPI metamorfoseado em cordeiro. Tateou as pernas curtas e emitiu sons dissonantes. Era um ser bastante diferente daquele que a revista Veja registrara.

“Amor nos Tempos do Corona”

Era inevitável: o cheiro do leite condensado lhe lembrava sempre o destino dos amores maduros. Numa linda relação de amor, fidelidade e desejo, Eduardo Pazuello move o mundo, inventa tramas, brinca com a memória, reverte o tempo e sublima os fatos para proteger seu amado presidente. Mas a tarefa não será fácil.

“Memórias Póstumas de Ernesto Araújo”

Exumado do corpo diplomático brasileiro, Ernesto Araújo, seguidor fanático da filosofia de Quincas Bannon, narra suas memórias ficcionais, que incluem a invenção do famoso emplasto de cloroquina. Além das relações sempre transparentes e cordiais com Lobo Neves, Virgília e a China.

“Alice no País da Cloroquina”

Uma menina adormece e sonha com um mundo com gatos falantes, chapeleiros malucos, Rainhas de Copas e tratamentos precoces que são eficientes contra o coronavírus.

“Grande Sertão: Em Chamas”

Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram do Salles não, Deus esteja. Alvejei mira em agentes do Ibama, do ICMBio. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto. Daí, vieram me chamar. Causa dum cavalão: um cavalão branco, erroso, os olhos de nem ser —se viu—; e com máscara de Messias. Me disseram; eu não quis avistar. Mesmo que, por defeito como nasceu, arrebitado de beiços, esse figurava rindo feito pessoa. Cara de gente, cara de cão: determinaram —era o demo.

A segunda parte da coleção vai incluir versões atualizadas de “Memórias de Um Capitão de Milícias”, “Diário de Um Bananinha” e o clássico escrito depois da recusa de 11 ofertas de vacinas: “Em Busca do Tempo Perdido”.

*Publicado na Folha de S.Paulo

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