DIÁRIO DA GRIPEZINHA
A síndica programou uma assembleia extraordinária. Ninguém compareceu. Ninguém, minto. O novo serviçal compareceu. Novo é a maneira de dizer. Daqui da janela capto o que se passa nas estrebarias. A síndica esperou as duas horas regulamentares e, como ninguém atendeu à chamada, deu por encerrada a reunião. Não sem antes ter registrado em ata tudo o que quis e o que não quis. No mesmo dia, cada apartamento recebia por baixo da porta um minuto de silêncio, digo, a minuta da reunião, constando que o condomínio adquiriu, digo, contratou novo faz tudo, mas nesse faz tudo não constava a lavagem de gatos. Isso eximia o Senhor Humildes da Silva dessa obrigação que, aliás, já causara baixas no Exército deste condomínio. Como vimos nos episódios anteriores. Outra coisa: com nosso dinheiro foi mandada fazer uma placa a ser fixada no canteiro central, com o seguinte dizer: “Para não passares por burro aos burros não te mistures”. Um gasto desnecessário, mas que gasto não é desnecessário neste condomínio? Batman queria entrar em ação contra tal crime, mas por mais que olhasse para o céu não via o sinal do delegado Gordon convocando-o. Robin é que estava serelepe, de calcinha nova e tudo, mas a ribalta abriu-se apenas para o novo serviçal. De conluio com a síndica ficou acertado que a ele competia contratar pessoas para ajudarem no serviço da casa. Pessoas essas pagas com nosso suado dinheirinho. Assim é. Fui lá na tal placa e corrigi: “para não passares por burro aos espertos não te mistures”.
Filme: A ÚLTIMA TEMPESTADE (direção de Peter Greenway, com John Gielgud, Michel Blanc, Erland Josephson, Isabelle Pasco e Michael Clark – premiado em Varsóvia, Veneza, Holanda e Londres). Conta a história de um país, que no outrora já fora uma orgulhosa nação, e que estava sendo destruído pela peste e pela Covid. Os habitantes, uns toscos, outros nem tanto, aguardavam pelo resultado da última tempestade que, no entanto, poderia ser nada mais que um chuvisco de regar alface