por Paulo Krauss
No segundo semestre de 2003, uma jornalista me ligou no Instituto Jaime Lerner perguntando se era verdade que o ex-governador estava indo pro PSB. Fui à sala de Jaime, que ficou vermelho, nervoso, negando, pedindo a seu assessor político que confirmasse que nada havia. Eu disse que responderia que ele continuava de férias políticas, nossa resposta padrão. Pouco depois, encontro o assessor na copa pegando um café e comento que achara engraçado o jeito do Jaime negar a informação, praticamente se entregando.
Tinha voltado à minha sala quando entra o Jaime, meio apressado, fecha a porta, puxa uma cadeira e senta bem ao lado de minha mesa. Tremendo, vermelho, começa: “Paulo, eu queria que você soubesse que eu confio muito em você, gosto muito de você. Eu, a Fani, todos aqui gostamos muito de você”…
Ainda sem entender, me assustei, pensando se tinha feito algo tão errado a ponto de ele vir na minha sala, em vez de me chamar na dele. Jaime continua: “Eu não te falei da movimentação política porque ainda estamos decidindo, é algo grande…
Tento interromper Jaime, porque agora eu estava envergonhado, constrangido. Três vezes prefeito, duas vezes governador, e ele vem a minha sala pedir desculpas. Pedi que parasse: “Jaime, por favor, você não tem que se desculpar de nada, não tem problema”…
Mas ele realmente queria se desculpar com o assessor que trabalhava ali havia seis meses. “Eu não quero que você pense que não confio em você, ia te contar assim que as coisas ficassem mais certas”…
Interrompi de novo, porque me incomodava a situação, um dos gênios do País, do mundo, ali se desculpando, parecia um menino na frente do pai após fazer algo errado. “Jaime, fique tranquilo, você não tem que me falar tudo, às vezes é bom nem saber, assim nego com mais convicção também. Não tem do que se desculpar, não estou chateado.”
Só então Jaime ficou aliviado, foi recuperando o jeitão alegre de sempre, disse que assim que tivesse qualquer novidade me avisava. Ele queria mesmo filiar-se ao PSB, queria mesmo ser candidato a prefeito do Rio, mas a configuração política de 2004 não permitiu.
Jaime era brilhante, bem-humorado, elegante e simples ao mesmo tempo, humilde a ponto de pedir desculpas que nem eram necessárias. A imagem daquele guri de 65 anos, encabulado naquela cadeira, levarei para sempre.
*Paulo Krauss foi assessor de Comunicação do Instituto Jaime Lerner em 2003/2004
Que legal, uma imagem bacana do Lerner.
Bela história. Todas as honras ao Jaime Lerner