DIÁRIO DA GRIPEZINHA

Desde criança. Era um piá mal saindo dos cueiros e já contava vantagem. Dizia que queria ser rei do mundo. Mandar e desmandar conforme fosse dando vontade. Principalmente desmandar. Ou mandar desmandarem. Foi servir na Marinha. Meteu uma bomba na própria embarcação porque achava que todo navio tem a obrigação de ser submarino. Na CPI do Submarino, deu seu depoimento: “Senão, como é que vai ser?” Os superiores não sabiam a resposta e ele foi inocentado. Foi transferido para a Aeronáutica. No primeiro dia já se encrencou com o chefe da casa. Disse que gostava de comer brigadeiro. Foi imediatamente transferido para o Exército, mas ainda deu tempo de explodir um bimotor que tinha atuado na Itália e que era a menina dos olhos do dono da casa. No Exército desenhou planos de explodir tudo, inclusive a si, o que seria um conforto para o país. Expulso do Exército só lhe restava uma saída: inscrever-se como diretor de Jardim da Infância, no que pese ter que aguentar chororô e criança fazendo nas calças. Queria ser rei do mundo. Continuou aquele piá que sempre foi, com medo do escuro, buscando proteção dos piás mais parrudos, que não eram seus amigos, que amigas mesmo eram as galinhas com quem levava importantes leros.

Filme: O LEOPARDO (dirigido pelo conde Luchino Visconti, com Burt Lancaster no papel de dono do pedaço). O filme mostra o comportamento de animais num zoológico conhecido pelo nome de Casa Grande. A maioria, ratos; mas tinha também lobos guarás, que valem uma nota, serpentes e cachorros que fingem fidelidade, mas aceitam osso de qualquer um. A história ganha força quando conhecido gato, famoso por suas gatunagens, bota na cabeça que é um temido leopardo, e resolve berrar em Dó Maior. A matilha toda se alvoroça, o dono da Casa Grande chega e pergunta quem é que manda nesta merda.