Estava em outros mundos quando me pediram para escrever como estaria o ser humano na cidade no futuro de uns cem anos depois. Isso porque a onda da tecnologia começava a galopar. Sim, o termo não combina, mas faz bem atropelar para a coisa não ficar muito muito. Tomei várias doses enquanto paria algo como se fosse um conto – de araque, ou não, mas que brotava da usina alimentada desde Metrópolis, aquele, do Fritz Lang, filme de 1927. Fechei meus personagens em caixas de concreto amontoadas umas em cima das outras, sem janelas, só com telas em alta definição mostrando paisagens e uma parafernália que os iludia com um bem estar artificial. Lá fora… era como agora, mas com gente que parecia zumbi à procura de alimentos e fugindo dos tiros a laser da polícia high-tech. O céu, cinza. Não havia noite ou dia, sol ou lua. Uma droga distribuída oficialmente dava a opção de o cidadão hibernar por muito tempo, se quisesse. Tomei mais uma e no dia seguinte entreguei a encomenda. Gostaram. Publicaram. Estou esperando que a droga que inventei seja criada. Faz tempo.