por Thea Tavares
Não se trata de jabá, mas do dever de partilhar a beleza que transborda da leitura do mais novo livro do Zeca Corrêa Leite, esse menino cujos sonhos, para nossa sorte, desconheciam fronteiras: “Perfume de alfazema e algumas confissões perdidas”. Ganhei de presente do casal de amigos Cris & Lomba, praticamente uma instituição, essa obra delicada e preciosa, que já começa a nos arrancar suspiros na apresentação, capa, embalagem, papel, na escolha das cores, das fontes e no traçado das linhas. A gente folheia com um zelo e cuidado, quase que cultuando, sim. Pois é preciso render reverências a quem, nesses tempos de exaltação da tecnologia das mídias digitais, se dispõe a colocar tanto carinho impresso no livro.
Venho me deleitando nessa leitura a passos milimétricos para tentar reter por mais tempo sua companhia tão inspiradora. É meio que uma mania, um apego, que desenvolvi para essa temporada de reclusão. Fiz assim recentemente com o “Sicupira”, do Sandro Moser; com a biografia do Belchior, escrita pelo Jotabê Medeiros; com contos e poemas da inspiradora escritora de Niterói, a Lia Vieira, e até com as análises sobre ecologia e espiritismo do André Trigueiro. Protelei ao máximo alcançar o último capítulo, já antevendo a saudade.
Mas esse livro do Zeca tomou posse e fincou plaquinha de patrimônio no leito do coração. Encontro-me ainda na metade das impecáveis cartas trocadas entre Júlia e Frederico. Quero intuir o desfecho, como quem se entrega ao prazer de hipoteticamente desvendar os mistérios de uma trama em suspense policial, mas logo sou abduzida e convidada a puxar o freio de mão diante de uma frase ou de um cenário de arrancar o fôlego da gente e nos fazer emitir inúmeros e profundos suspiros de encantamento. É quando tudo para e se ouve com exatidão os passos do balé que uma folha faz ao desprender-se da árvore ou se presta atenção àquelas partículas dentro de um facho de luz. Estátua! Absorvo um ar travesso de brincadeira de infância. O Zeca nos deixa com uma bruta vontade de querer (ou ousar querer) ter pensado naquela composição, ter escrito assim e de ter saboreado em vivências também as sensações, afetos, conexões, desejos, encontro de afinidades e as interações que pulsam da ternura daquelas páginas, dos seus cenários.
Há uma tensão no ar, sim, de realidade latente, mas o diálogo entre duas almas que se abraçam à distância, conectam-se e que conversam com suas próprias aspirações mais elevadas do amor e da beleza transmite uma confiança na essência humana e na civilização que abriga sentimentos, ideias e expressões dessa natureza, projetados nessa convivência doce, que é difícil expressar em descrições racionais e materialistas. Quem dera todas as realidades fossem construídas a partir de criações assim! E tento esquecer por um momento o meu guru da MPB, quando canta todos os dias nos meus ouvidos que “isto é somente uma canção” e que “a vida realmente é diferente, quer dizer: ao vivo é muito pior”.
Desconheço o contexto e as inspirações, pois nada li previamente que me preparasse para aquele mergulho, mas as cartas de Júlia e Frederico – mal passei da metade, repito – sinalizam uma outra direção. Num tempo remoto, com gosto e aromas de um passado e de um estilo de vida que nos afoga em saudades, o romance elaborado nesse formato de correspondências pede que vislumbremos com doçura e até com alguma esperança as possibilidades e infinitudes que cabem dentro da alma humana e que precisam encontrar espaço nas turbulências cotidianas. Poderia ser uma leitura fácil, de tão inebriante que é, coisa de um final de semana… Muitas pessoas lerão assim e com toda a razão. Repetirão até, como a um filme que a cada vez que assistimos percebemos detalhes, cenas e sentidos com prazer de novidade. Mas o meu deleite é outro: adiar ao máximo, voltar e reler partes do que já havia nutrido minha imaginação. Nasceu de um presente e virou uma amizade. Entrou para a família!
Não imagino “Perfume de alfazema e algumas confissões perdidas” mofando numa estante, à espera de novos mergulhadores. As cartas de Júlia e Frederico precisam estar à vista e dispostas ao manuseio constante naquele altar sagrado da gente se fazer bem… Ambiente arejado para, em retribuição, exalar sempre o frescor dessa esperança tátil que carrega, moldada em forma de literatura. Gratidão.
Acabo de ler Thea Tavares e não sei dizer se estou em choque pela beleza das palavras ou se estou em estado de encantamento. Se é possível situar-se num território prefiro o da gratidão. Gratidão pela colocação de cada palavra, vírgula, ponto final, encadeamento de cada pensamento. Gratidão, espero, afasta vaidade, traz o peso da responsabilidade e aquele medinho que atravessa a alma: será que o “Perfume de Alfazema e Algumas Confissões Perdidas” é tudo isso que a sensibilidade de Thea captou? Gratidão e agradecimento à Thea, ao Lomba, às demais pessoas que nem conheço, pois compraram o livro por zap, depois de lerem sobre ele na imprensa, e me presentearam com lindas palavras emocionadas. Então, neste terreno de gratidão, agradeço e agradeço. Outros sentimentos recolherei em seguida. Deus abençoe a todos.
Poxa, Zeca! Você não cansa de encantar, emocionar e de embelezar a vida da gente, né?
Eu já era grata pela leitura do livro… Comentário assim, então!? Benza, Deus!!
nada mais justo para um livro que a Thea mesmo diz que precisa estar sempre à mão, sempre à vista, pra lembrar que o ser humano ainda tem jeito, embora cada dia mais raro. Só que como o Zeca e a forma como ele desenha palavras que enternecem corações de granito, já não há. Sua literatura nos dá tanto prazer que até parece que estamos roubando algo que não merecemos.
É exatamente como me sinto em relação a essa obra tão delicada, cuja troca de cartas entre Júlia e Frederico nos eleva a ponto de esticarmos ao máximo o tempo de chegar ao desfecho para que o encantamento nunca cesse. Tive a alma resgatada pelo “Perfume de alfazema e algumas confissões perdidas”, querida Thea! Saber que recebemos de presente dos mesmos amigos, torna ainda mais especial essa corrente de encantamento e de pessoas que quero para sempre em minha vida. Falei para o Lomba que o presente dele teve um efeito de bomba de bicicleta, quando infla o vazio da alma, sabe?
Considero o Zeca Corrêa Leite nosso grande herói em tempos tão sombrios! Com seu talento e grandiosidade de alma, conseguiu trazer luz para nossas almas carcomidas pela tragédia em curso. Suas palavras mágicas e construções absolutamente redentoras são o meu elixir para voltar a sorrir e fazer sorrir presenteando a todos com essa obra necessária! Quero que essa quenturinha no meu coração se multiplique para conseguirmos resgatar a nossa condição de SER humano!
Bravo, Thea e Zeca!!!
Esse é o meu eterno amigo Zeca… encanta nos livros e na vida real… meu carinho e amor incondicional a esse talento! Abraços😍
Miriam, Magaléa e Maria Lúcia, corrente de encantamento não poderia definir melhor os comentários nesta postagem. O Zeca faz isso com a gente!!!
Em tempo: terminei a leitura. Reafirmo cada palavra escrita antes. A história só ficou mais bela e mais intensa. Valeu mesmo, Zeca! “A vida é uma obra inacabada”. É como sinto também e vou reler “Perfume de alfazema e algumas confissões perdidas” quantas vezes for preciso… Para nunca me esquecer dessa afirmação e desse sentimento, esse encantamento que me envolve agora. De novo: gratidão!