18:12German Lorca, adeus

Da FSP

Morre German Lorca, último representante do Cine Foto Clube Bandeirante, aos 98

Fotógrafo fez história com suas imagens ultrageométricas, em preto e branco, da São Paulo em transe dos anos 1950 e 1960

Último sobrevivente do celebrado Foto Cine Clube Bandeirante, grupo de fotógrafos que modernizou a linguagem visual no país, German Lorca morreu neste sábado (8), aos 98 anos, de causas naturais, em São Paulo. A informação foi confirmada por um de seus filhos, Frederico Lorca.

Lorca fez história com imagens ultrageométricas, em preto e branco, da São Paulo que se industrializava ao longo dos anos 1950 e 1960, assumindo o papel de cronista de uma metrópole em transe.

Pioneiro tanto na fotografia autoral quanto da publicitária, foi um dos mais importantes nomes da área no Brasil e no exterior.

Suas obras integram, entre outras, as coleções do Masp, Pinacoteca, e do Museu de Arte Moderna de São Paulo, o MAM-SP, além do MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova York —o último, aliás, abriu neste sábado uma exposição sobre o Foto Cine Clube Bandeirante, a primeira dedicada à fotografia moderna brasileira fora do país.

Há três anos, o Itaú Cultural, na capital paulista, organizou uma grande retrospectiva sua.

Formado em contabilidade pelo Liceu Acadêmico em 1940, Lorca começou a fotografar durante sua lua de mel, nos anos 1940, com uma câmera emprestada. Apaixonado pela linguagem, comprou a primeira câmera, mas a dedicação às imagens era tamanha que, um dia, enciumada, sua mulher quebrou o dispositivo.

Com a câmera e o casamento reparados, Lorca ingressou no Foto Cine Clube Bandeirante, em 1948. As discussões com nomes como Geraldo de Barros, Thomaz Farkas e José Yalenti sobre os limites da fotografia documental e as experimentações com os processos de revelação convencionais logo contaminaram sua produção de imagens de rua.

A passagem pelo clube teve um início entusiasmado, mas esfriou com o tempo, segundo narrou o fotógrafo numa entrevista ao jornal de 2009. Isso porque a entidade passou a julgar as fotos a partir de um sistema de notas. “Aí já não dava mais, ficou muito chato. Não gosto de me enquadrar em regra nenhuma”, contou Lorca.

Ele só passou a se dedicar exclusivamente à fotografia em 1952, quando abriu um estúdio próprio. Dois anos depois, foi escolhido o fotógrafo oficial do quarto centenário da cidade de São Paulo.

“Ele aprendeu e se apaixonou pela fotografia e via que ali tinha uma possibilidade de sobreviver. Esse é um ato de coragem que ainda hoje poucos têm”, afirma Rubens Fernandes Jr., pesquisador que organizou a retrospectiva de Lorca no Itaú Cultural.

Além disso, acrescenta o pesquisador, Lorca percebera que, naqueles anos 1950, chegavam as primeiras agências de publicidade ao Brasil, e a fotografia ganhava espaço na mídia impressa.

Fernandes Jr. diz que uma das características mais marcantes do fotógrafo era a naturalidade como ele transitava entre a chamada fotografia artística e a publicidade.

“Ele sempre se pautou pela valorização da fotografia, seja do ponto de vista da publicidade ou da fotografia como arte. Ele fazia essa diferenciação, mas ao mesmo tempo valorizava as duas vertentes, e atuou com muita força em ambas”, afirma.

São vários os exemplos dessa versatilidade. Uma delas é a fotografia da marca de meias femininas Pégaso, de 1960, em que fotografou um par de pernas femininas com uma série de pernas de mesa, com formatos curvos, criando uma composição que acabou ganhando status de arte.

Também de forma comissionada, fotografou um conjunto habitacional na Mooca, em São Paulo. A imagem em que enquadrou seus dois filhos em meio a um mundaréu de concreto foi outra que ganhou status elevado.

Mesmo assim, ele dizia não se considerar um artista. “Sou um fotógrafo que faz boas fotografias”, disse ao jornal há cinco anos.

Lorca deixa três filhos, seis netos e três bisnetos.

 

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