por Thea Tavares

“Quero sua risada mais gostosa
Esse seu jeito de achar
Que a vida pode ser maravilhosa”.

(Vitoriosa – Ivan Lins).

Esqueça os apelos da propaganda.

Não precisa comprar presente algum.

Não precisa gastar um centavo com qualquer mercadoria que a cada ano tenha de superar, no preço da etiqueta e na impressão que causa, àquela dada no ano anterior.

Não é essa a métrica do amor.

Quero algo mais valioso, mais sólido e mais notável, que me faça dizer: não tenho estrutura para isso, não!

Quero sua felicidade e sua realização constantes. A cada dia, na medida do possível e do seu esforço. A cada tropeço, receio ou dúvida.

Quero sua atenção, seu pensamento e sua oração antes de dormir.

Quero que atenda às minhas ligações e, se alguma delas coincidir com um momento inconveniente, que você simplesmente dedique dez segundos para enviar uma justificativa. Pode até mesmo deixar pré-salva uma mensagem para esse fim: “Estou em reunião”, “não posso atender agora” ou “ligo assim que puder”.

Só esta satisfação já vai me comunicar que você está ocupada, na lida e que a sua presença, naquele momento, se faz necessária em outro espaço. Vou entender e me orgulhar pra burro! Afinal, não dizem por aí que a gente cria os filhos para o mundo? Mas nunca ligue do nada, sem aviso, pois sempre me assusto nessas horas e penso se tratar de alguma notícia ruim.

Já até imagino você falando: “Mãe, não faça drama!”. Isso é música para os meus ouvidos. Vou lembrar que, desde aquele primeiro ‘não’ que você aprendeu a falar, fui justamente eu quem lhe ensinou a ter percepção e franqueza assim, à flor da pele e na ponta da língua.

Quero sua sinceridade, seu sorriso, seu olhar, sua liderança e sua determinação.

Que você se levante, trabalhe, que busque construir seu caminho e que supere com altivez os desafios impostos à conquista dessas ações… Que se erga, que adormeça, que se desanime diante de algumas situações que nos fogem ao controle, isso é humanamente possível, e que me peça colo e aconchego para recarregar as baterias sempre que for necessário. Que recomece e tente de novo. Que saiba pedir ajuda para dividir o peso natural dessa nossa luta cotidiana.

Ah, como quero que você ame!

Que seja amada singelamente por aquilo que é e a cada um dos seus defeitos, limitações, à medida em que eles forem gradativamente descortinados na convivência. Que seja mais amada ainda nos seus instantes de mau humor e de irritação, dia sim e outro também.

Quero novamente e sempre a sua sinceridade, a sua verdade e sua segurança em se posicionar com precisão, em saber o que quer e quando estrategicamente terá de recuar. Quero todo o seu poder de decisão!

Sua sabedoria, que me tanto encanta.

Seu discernimento, suas escolhas, seus equívocos e suas desculpas.

Quero que ouça música bem alto e que dance. Que solte um palavrão se sentir vontade, se for imperativo, como uma espécie de catarse e de livramento.

Quero que nunca deixe de dizer “caguei” para tudo aquilo que a mim tanto afeta, incomoda, constrange ou que costuma me roubar o sono, pois, do fundo da sua maturidade geracional, incompreensível e estranha ao meu modo dramático e velho de enxergar as coisas, tais bobagens só merecem mesmo o menosprezo e a indiferença.

Se você achar que tudo o que foi listado aqui tenha um custo demasiadamente elevado, não esteja naturalmente embutido na sua personalidade ou seja mais difícil de executar do que me presentear com um perfume, flores, bombons, roupas, bolsa, joias ou eletrodoméstico, ainda assim, não compre nada. Carregarei a culpa de não ter lhe mostrado com lições claras e gestos exemplares o que de fato tanto importa para mim: sua presença, seu brilho, sua existência!