por Oberlan Rossetim
Um vício, uma dor, um limite, outro céu. No meio da lágrima, o resgate. E aquilo que seria a partida, virou um jogo: “encontrei-me desta vez”, pensou o moço-velho. Barbas brancas e a solidão como um gelo. Os medos como um retrato amarelo, tedioso, em cima do piano. Hoje pela manhã o ar estava tão puro que pensei no meu recomeço. Os cadernos são tantos e tão maltratados que me dão desejo de ser virtual, de escrever em máquina de última tecnologia. Sem cadernos, a vida fica póstuma. Estas paisagens do que sou, derretido em angústia, são apenas os azuis de um céu de juventude que ficou frouxa, como o parafuso do tempo que não sabe se ontem ou se amanhã, jamais dentro do agora, visto que o agora é para assuntos de maternidade: quem é que cabe na barriga do presente e ali não discute com a alma em formação, Oh, Ventre sujo da minha malícia, Ai, Delícia da minha recusa. A minha espera é tão paciente que já veio ontem. E no presente dou-me presentes, faço duplo (vários, muitos) aquilo que em Português de escola é no singular. O presente que me dou agora é ser você, nada psicanalítico, visto que as minhas lentes já morreram em Poesia.
Sensacional