por Roberto Salim, no site Ultrajano
Luiz Alberto nunca foi de engolir qualquer coisa que considerasse errada. Por isso, já trabalhando em solo nacional, quando deixou os Estados Unidos e retornou ao Brasil, ele acabou movendo processo contra a Confederação. Ganhou nas duas instâncias iniciais, e os dirigentes da entidade na época conseguiram jogar o julgamento final para Brasília. A questão ainda está lá
Eram os anos 80.
Quase sempre nas noites de domingo, eu fazia no telefone da redação da Folha de S.Paulo ou da revista Placar um interurbano para os Estados Unidos para falar com o técnico Luiz Alberto de Oliveira. Precisava saber como tinha sido o fim de semana de seus brilhantes atletas nas pistas norte-americanas: Zequinha Barbosa, Joaquim Cruz e Agberto Guimarães. E invariavelmente, eram entrevistas sobre resultados incríveis nas provas de meio fundo. Os três competidores eram simplesmente fantásticos.
De 1984, na Olimpíada de Los Angeles, para hoje se passaram 37 anos.
E agora, neste dia 24 de abril de 2021, recebo via whatsApp em meu celular mensagem de áudio do mesmo técnico Luiz Alberto. Ele está em Doha, no Catar. Trabalha lá faz algum tempo. Há dois meses seus problemas de saúde se complicaram e ele já passou por angioplastias e todo um delicado tratamento hospitalar. Luiz está fragilizado. Com constantes hemodiálises. Está bem assistido. Mas com uma dívida imensa em sua conta bancária.
“Ele deve algo em torno de US$ 10 mil pelo tratamento recebido até agora”, me conta o ex-atleta e amigo Zequinha Barbosa. “Providenciei uma vaquinha virtual, mas só conseguimos até agora US$ 2.827, só com apoio vindo de atletas aqui dos Estados Unidos, onde Luiz fez um trabalho brilhante no atletismo norte-americano.”
Quando foi trabalhar nos Estados Unidos, no começo dos anos 80, Luiz Alberto era um técnico competente e sonhador. Tanto que vendeu seu Opalão a fim de juntar o dinheiro e seguir com seus atletas para solo norte-americano, onde tinha certeza da evolução dos meninos na pista.
Ele foi.
Viu. Treinou sua turma.
E venceu.
Fez história.
História olímpica, pan-americana, mundial, nas pistas em provas de meio-fundo.
Seu trabalho fez escola.
É estudado em todo o mundo por técnicos de várias nacionalidades.
Mas seu gênio impulsivo e a sinceridade fizeram inimigos dentro da Confederação Brasileira de Atletismo.
Luiz Alberto nunca foi de engolir qualquer coisa que considerasse errada.
Por isso, já trabalhando em solo nacional, quando deixou os Estados Unidos e retornou ao Brasil, ele acabou movendo processo contra a Confederação. Ganhou nas duas instâncias iniciais, e os dirigentes da entidade na época conseguiram jogar o julgamento final para Brasília.
A questão ainda está lá.
Por isso, na gestão passada, seria infrutífero falar sobre a situação atual de Luiz Alberto no Catar com os dirigentes da CBAt.
“Mas agora entrou nova gestão. Novos ares”, disse Zequinha Barbosa, que se animou ao ligar neste sábado para o novo presidente da entidade, Wlamir Motta Campos.
“Eu disse a ele que uma coisa é o processo. Outra coisa é a história de Luiz Alberto. A história de conquistas em Mundiais, Pan-Americanos e Olimpíadas. E o Wlamir concordou comigo”, animou-se.
Zequinha Barbosa está fazendo uma vaquinha virtual para auxiliar o pagamento da dívida hospitalar de Luiz Aberto.
E a própria assessoria de imprensa da Confederação Brasileira, depois da conversa com Zequinha, emitiu comunicado com a fala do presidente Wlamir.
Eis a nota com as palavras de Wlamir.
“A CBAt institucionalmente não pode ajudar com recursos financeiros até porque neste momento os recursos financeiros de que dispomos são públicos, originários da Lei Agnelo Piva, e a utilização é absolutamente restrita. Eu farei um vídeo solicitando apoio da comunidade para o Luiz, mas infelizmente a CBAt não pode ajudar financeiramente. Realmente, o Luiz move uma ação contra a CBAt, a esposa e o enteado também. Mas nem entro nesse mérito. A verdade é que a CBAt realmente não pode fazer doações, somos mantidos com recursos públicos e inexiste essa previsão legal. O Luiz merece e tem o meu total respeito e eu pessoalmente contribuirei com a campanha. Zequinha conversou comigo e me informou a situação do Luiz.”
Até agora Zequinha conseguiu US$ 2.827 dos US$ 10 mil necessários para pagar as despesas hospitalares.
“No primeiro hospital ele passou 54 dias, Heart Hospital. Recebeu alta dia 8 de abril, retornou dia 18 devido a uma infecção na perna e está no Hamad General Hospital”, conta Zequinha.
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Sim, já se passaram quase 40 anos, mas o velho Luiz continua lutando por seus ideais. Por seus sonhos, como aqueles de 1984 em que ele buscava a medalha de ouro olímpica nos 800 metros. E conseguiu nas passadas firmes de Joaquim Cruz.
Mas o sonho hoje é pela vida!