DIÁRIO DA PANDEMIA

Agora a moda pegou. Escutei o vizinho do lado, debruçado na janela: “Dona Humildes não vale um pequi roído”. Em resposta, ouvi perfeitamente esta resposta-queixa da funcionária que nos varre, nos lava o chão, cuida das nossas feridas: “A síndica não vale um pequi roído”. No pátio as crianças brincavam. Volta e meia uma dizia para outra que ela não valia aquele fruto mordido. O condomínio estava assim. Estava-se a planejar a Festa do Pequi Roído, em homenagem ao filho do homem, que sem o alerta desse menino passaria batida a história daquele fruto. A síndica invadiu nossa reunião, sem pedir licença, e disse: “Vocês não valem um pequi”. No entanto, anuiu, seja lá o que isso signifique. O capitão até desconfiou e disse çei, assim mesmo, com cedilha, pra demonstrar que ali tinha dente de coelho. “Não é doente caolho?” – perguntou a vizinha que almeja meus jornais para que sobre eles seu pet se alivie. “Acho dia 30 uma data redonda” – respondeu a síndica. “Não caindo no primeiro de abril já está de bom tamanho”, disse o boy do capitão, que agora não tira mais essa fantasia ridícula de Robin. E fechamos em 30 de março a festa virtual do pequi roído, mesmo porque cá não habemos pequi, e ademais estamos de quarentena, seja lá o que isso signifique.

Filme: La Película del Rey – sem circulação no Brasil; tive que ir lá comprar. Direção de Carlos Sorín, com Ulisses Guimarães, perdão, com Santos Dumont, perdão outra vez, com Ulises Dumont + Julio Chávez + Villanueva Cosse + Ana Maria Giunta + Roxana Berco + Daniel Lewenlin – Leão de Prata em Veneza, Medalha de Ouro no Festival de Biarritz; Prêmio Goya de Mejor Película Extranjera e Prêmio François Truffau no Festival de Valladolid. A história é a seguinte: um reizinho de um país muito longe daqui, mais conhecido como Casa de Mãe Joana queria dar um passo maior que as pernas, mas não contava com a preciosa ajuda de esposas e filhos.