6:13NELSON PADRELLA

DIÁRIO DA PANDEMIA

Hamilton Mourão atento ao movimento das ruas. De pé, à porta do Palácio, uniforme de combate, binóculo na mão. Examina o movimento daqueles manifestantes. Todos eles perderam um parente, um amigo, um conhecido na Batalha do Pequi Roído. Isso não importa. Importa que não me venham com atitudes hostis al nuestro Jefe de la Nación. O primeiro que chamar o mito de genoc…nem vou pronunciar essa palavra. Se pronunciar terei que me mandar prender a mim mesmo. Vejo que portam cartazes, esses safados!”. Nós, do Governo, estamos em paz, eles é que chegam para provocar. Depois se queixam de ser enquadrados na Lei de la Seguridad Social. Olha lá, olha lá. Leio num cartaz a sílaba GE. Perto daquela menina que só pode ser comunista tem outro cara com o cartaz escrito NO. A comunistinha tem no cartaz dela a sílaba CI. Percebo o DA na mão de um garoto vestido de luto, vai ver que perdeu alguém da família. E olha lá que temos novidades. Mais quatro cartazes aparecem. Num está escrito BOL, noutro SO, noutro Na e noutro RO. Agora caminham na direção do Palácio, os cartazes erguidos acima de suas cabeças. Leio a frase inteira: SORONA BOLGE DACINO. Isso eu acho que pode.

Filme: O ECLIPSE (um filme de Michelangelo Antonioni, com Monica Vitti e Alain Delon). A família endiabrada estava para se transformar em lobisomem. Só faltava uma faísca para acender o rastilho e explodir o golpe dentro do golpe. (O pai daquela família era doidcho para explodir coisas). Mas, quando se preparavam para virar lovisome (que é assim que se fala em Palmeira), a lua saiu de cheia e entrou em eclipse.

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