8:09Ataque para enquadrar Moro

Da revista Veja, em reportagem de Laryssa Borges

Moro sob ataque: asfixia financeira e abuso de autoridade

Parlamentares, o PT e ministros avaliam a possibilidade de o ex-juiz responder a pedidos de indenização e ser enquadrado na Lei de Abuso de Autoridade

No auge da maior operação de combate à corrupção da história do país, nenhum
brasileiro amealhou tanto poder e prestígio quanto Sergio Moro. Juiz que colocou atrás
das grades políticos, empreiteiros e operadores de sofisticados esquemas de lavagem de
dinheiro, tornou-se conhecido internacionalmente e cogitado como um candidato
natural à Presidência da República em 2022. Ao mesmo tempo, cada sentença sua
reforçava na classe política e em integrantes de tribunais superiores a convicção de que
ele deveria ser o inimigo em comum a ser abatido. Sem a ribalta da Lava Jato e
desgastado com a divulgação de conversas que sugerem uma parceria ilegal entre o
então juiz e procuradores que tinham como atribuição acusar os suspeitos de depenar
os cofres da Petrobras, Moro agora é alvo de um cerco. Um dos objetivos é asfixiá-lo
financeiramente, por meio do pagamento de custas processuais e de pedidos de
indenização, e levá-lo a responder pelo crime de abuso de autoridade.

No julgamento em que o Supremo Tribunal Federal (STF) discute se o ex-juiz
perseguiu ou não o ex-presidente Lula ao condená-lo por corrupção no caso do tríplex
em Guarujá, o ministro Ricardo Lewandowski deu a senha: disse ter ficado claro que
houve abuso de poder do ex-magistrado. Trocando em miúdos: o ex-juiz poderia ser
processado não só por suspeita de parcialidade, mas também por abuso de autoridade.
“Ficou patenteado o abuso de poder com o qual se houve o ex-magistrado, bem assim o
seu completo menosprezo ao sistema processual vigente no País, por meio da
usurpação das atribuições do Ministério Público Federal e mesmo da Polícia Federal,
além de haver ficado evidente a ocorrência de ofensa aos princípios do juiz natural e do
devido processo legal, de permeio a outras irregularidades e ilicitudes”, afirmou
Lewandowski.

Petistas já fizeram as primeiras reuniões para discutir como será a ofensiva contra
Moro. Além de analisarem processá-lo com pedidos de indenização por Lula ter ficado
preso por ordem de um juiz incompetente – o ministro Edson Fachin, do STF, anulou
as condenações impostas ao petista por considerar que a 13ª Vara de Curitiba, então
comandada por Moro, não deveria ter julgado o ex-presidente – eventuais processos
por abuso de autoridade poderiam levar o ex-magistrado a ser enquadrado na Lei da
Ficha Limpa.

Entre outras situações, o crime de abuso de autoridade ocorre quando um agente
público, a pretexto de realizar seu trabalho, extrapola suas atribuições para prejudicar
alguém, beneficiar a si próprio ou atuar por capricho ou satisfação pessoal. Decretar
prisões ilegais ou conduções coercitivas sem prévia intimação, por exemplo, poderia
levar a autoridade a ser punida com até quatro anos de cadeia. Pela Lei da Ficha Limpa,
ficam inelegíveis os condenados pelo crime de abuso de autoridade que tenham sido
penalizados também com a inabilitação para função pública. A inabilitação, diz a lei,
pode ocorrer se a autoridade acusada de abuso for reincidente.

A edição desta semana de VEJA mostra que parlamentares se articulam
para ressuscitar projetos que imponham quarentena a juízes que queiram deixar a
magistratura e concorrer a cargos eletivos. Mas a ofensiva não para por aí: no Tribunal
de Contas da União (TCU), a expectativa é que a consultoria americana Alvarez &
Marsal (A&M), atual empregadora de Sergio Moro e responsável pela administração
da recuperação judicial da Odebrecht, suspenda o salário do ex-magistrado, por ordem
judicial, até que a Corte discuta se há ou não conflito de interesses na contratação do
ex-juiz da Lava-Jato. Isso porque Sergio Moro atuou em ações penais contra
executivos da Odebrecht e homologou o acordo de leniência do conglomerado. Na
quarta, 17, o juiz João de Oliveira Rodrigues Filho, da 1ª Vara de Falências e
Recuperações Judiciais de São Paulo, deu o primeiro passo na ideia de asfixia
financeira e interrompeu os pagamentos da Odebrecht à A&M. A expectativa de
integrantes do TCU é que os próximos despachos do juiz tratem de uma eventual
suspensão do salário do ex-juiz.

Rodrigues Filho deu prazo de 15 dias para que a Alvarez & Marsal explique “os termos
contratuais que impeçam qualquer ingerência do Sr. Sergio Moro à atuação de Alvarez
e Marsal Administração Judicial Ltda (…) bem como as medidas de compliance,
nacionais e estrangeiras, que objetivamente funcionem para garantir qualquer
ingerência, intervenção e participação do Sr. Sergio Moro em questões relacionadas a
esta recuperação judicial”. A A&M receberá da Odebrecht entre julho de 2019 e
fevereiro de 2021 19,2 milhões de reais. O passivo da empreiteira sujeito a recuperação
judicial é de cerca de 112 bilhões de reais.

Em nota, a Alvarez & Marsal Administração Judicial “informa que se manifestará nos
autos da recuperação judicial, prestando os esclarecimentos solicitados, a exemplo das
informações enviadas ao TCU”. “A empresa segue cumprindo seus deveres no
processo de recuperação judicial, sempre pautada por suas responsabilidades legais em
cumprimento estrito de suas funções, conforme destacado, inclusive, na decisão
judicial. A Alvarez & Marsal Administração Judicial reitera seu compromisso de atuar
de acordo com os trâmites legais e com transparência em todos os seus processos de
recuperação judicial e reafirma sua atuação sob rígidas normas internacionais de
Governança Corporativa e de Compliance”

5 ideias sobre “Ataque para enquadrar Moro

  1. Causídico cansado de tanta sacanagem

    Moro era o chefe do esquadrão da morte, segundo o Ilmo. Ministro do STF. E eu concordo. Moro atuou de maneira absolutamente alucinada. É hora de responder pelo que fez. Espero que justiça seja feita!

  2. jose

    Algumas curiosidades:
    Vão processar o Emílio Odebrecht?
    Vão processar o Marcelo Odebrecht?
    Vão processar o Palocci?

    Aliás, alguém processou o Tuma jr. por conta aquele livro?

  3. Jaime

    A constituição não diz que todos são iguais perante a lei? Porque Osório o Moro escaparia disso? Ele até se acha acima do bem e do mal, quando na verdade ele vem do fundão das trevas. Alpinista social/financeiro é o que ele é.

  4. Rock

    Moro se deslumbrou e usou os aparatos do estado para fazer justiça conforme achasse melhor e não seguiu o que a lei determina pois abusou e se passarem pano nele outros vão fazer a mesma coisa.

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