8:31NELSON PADRELLA

DIÁRIO DA PANDEMIA

O médico veio delivery me examinar e disse que estava deixando umas águias comigo. Respondi que não tinha disposição para cuidar de aves campestres, e ele me passou duas folhas de papel. E disse: amanhã, bem cedo nesse endereço. E pronunciou o nome de Jesus. Respondi amém.

Entrei no laboratório todo confiante, e a moça atendente, uns 25 anos, perguntou das águias que o médico teria deixado para eu cuidar. Respondi que os pássaros ainda não haviam chegado, talvez estivessem em arribação, como os gafanhotos que prometeram vir a não vieram. Daí, ele me tirou os papéis da mão e disse que eram as guias.

Fui encaminhado a uma sala onde estava uma menina muito simpática, que até me ofereceu cadeira para eu sentar, e aí fiquei todo bobo. Passou a mão no meu braço e achei que ela estava avançando muito, afinal a gente nem se conhecia e ela já vinha com coisa. Inclusive, me chamou pelo nome. Como é que ela sabia? Eu estava ficando todo bobo, todo já se achando, quando ela enfiou uma agulha no meu braço. Bem onde tinha feito carinho. Primeiro assopra, depois morde. Vá confiar nessas meninas! Começou de puxar meu sangue pra fora, acho que bem uns dois baldes, e daí ela me perguntou se eu estava em Jesus. Não entendi. “Por que Jesus?” “Jejú”. Perguntou se tinha comido alguma coisa. Tinha, é claro, ninguém me orientou pra não comer. Comi pão com leite Moça, bebi café, como qualquer cristão. Ela arrancou a peruca e pegou de pisar em cima, e nisso até ajudei e peguei de pisar também.

Filme: O PECADO DE TODOS NÓS (direção de John Huston, com Elizabeth Taylor e Marlon Brando) Eleitores botam a mão na consciência e se dizem arrependidos da escolha feita em 2020.

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