de Mário Montanha Teixeira Filho
O meu amor é do tamanho de uma laranja,
ou de um limão, ou de uma maçã:
assim é o amor que eu tenho
olhado pelos olhos de um ser microscópico,
ainda que não me caiba dizer
se seres microscópicos são dotados
de olhar e de contemplação.
É do tamanho do mundo,
dos mundos todos que houver,
o meu amor, amor
que só eu conheço, ninguém mais,
em sua natureza, em sua abundância,
em sua convergência com a verdade primária.
Pois é meu o amor
que não tem passado, que não tem limites,
que desafia o tempo e se abriga
no silêncio do meu coração cansado –
é meu o amor, eis o que sei
e repito com palavras
inúteis, vazias e confusas,
posto que não inventaram a palavra
capaz de medir o que não se toca,
o que vem do lugar mais fundo de algo
cuja existência é a não-matéria.
Sinto-me só, portanto,
com o amor que é meu,
amor tão grande
quanto algo que não direi
pela ausência pura e simples
da palavra que não inventaram.
Sinto-me só porque só eu,
na imensidão dos mundos todos que houver,
conseguirei medir o imensurável,
o que para mim é óbvio
embora intraduzível.