6:15NELSON PADRELLA

DIÁRIO DA PANDEMIA

Aqui, as aulas são presenciais. A patotinha miúda, de seis a vinte e seis anos, se reúne no apê do capitão, onde recebe o ensinamento necessário. Todos amontoados na sala do mestre, começa a sabatina. É o método dele. Faz uma pergunta para a classe e aguarda a resposta. “O que significa a sigla TCU?”. Uma inocente criança de seis aninhos respondeu: “Teu c…”, e antes que completasse a frase o mestre atirou o apagador na cabeça dela. Daí, o capitão, daqui pra frente chamado de professor, perguntou se algum parente idoso tinha tomado a vacina. Edgarzinho, apelidado Tremoços, levantou o dedo: “O vô” – denunciou a criança. “E o que aconteceu com ele? – perguntou o professor. “Virou jacaré” – informou. Quem desse a resposta certa tirava dez na prova. Edgarzinho ganhou dez. Daí, o Maíco (apelido de Osmar) disse assim que a avó tinha tomado croroquinhas. “E…? “ perguntou o profe. “Não virou jacaré” – informou o infante. Ganhou nota cinco por ter estudado a lição pela metade. Nesse momento invade a sala a mãe do professor – que eu nem sabia que tinha mãe – e pega de distribuir croroquinhas pra todo mundo a preço de liquidação. Ainda disse bem assim: “O que não mata, engorda”.

Filme: A FLAUTA MÁGICA (de Ingmar Bergman, com uma flauta fazendo todos os papéis). Estava o cara levando a vida na flauta, como se diz. Sem comparecer ao trabalho. Alheio à realidade. Vivendo seu mundinho de mentiras e arrogância. Flauta mesmo ele nem tinha. Daí, passeando pela floresta encontrou-se com o fauno. E foi o fauno quem deu-lhe a flauta de que era carente, para ele tocar firiri fororó enquanto o mato pegava fogo.

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