DIÁRIO DA PANDEMIA
Voltando a falar do que interessa. Dona Humildes não veio mais vestida de noiva. Dona síndica condoeu-se da pobrezinha e deu pra ela uma blusa que usava para o cachorro deitar. O nome parece que é Rajá. Ficou Rajá sem o conforto, mas a serviçal ganhou roupa nova. Nova é maneira simpática de falar. Uma saia foi arranjada pelas moças do bloco A. Não é bem uma saia. É uma saída de banho, toda cheia de flores enormes, de todas as cores e tamanhos, tudo muito colorido e agradável. A abertura lateral deixa à mostra uma das coxas de Dona Humildes, mas como ela tem duas, não há porque não dividir com a plateia. Os sapatos que ela usa tanto para carpir o mato do seu quintal como para apresentar-se no condomínio foram aposentados por ingerência, seja lá o que isso signifique, da senhora do bloco B – uma louquinha que pensa que todo dia é Carnaval e põe-se a cantar mamãe eu quero altas horas da noite. Insistiu para que nossa empregada aceitasse os sapatos que ela usava quando ia aos bailes do Clube Curitibano quando a sede ainda era na Rua XV. Sapatos salto Luiz XV, que compunham muito bem com a saída de banho e a blusa rústica e meio mordida. Me emociona ver como esse povo se une para ajudar quem precisa.
Filme: O MÉDICO E O CHARLATÃO (direção de Mario Monicelli, com Marcello Mastroianni e Vittorio de Sica). Num país muito longe daqui, em plena Idade Média, o suserano botou um taifeiro de sua confiança para cuidar da saúde dos seus soldados.