6:16NELSON PADRELLA

DIÁRIO DA PANDEMIA

 *Meus filhos estão carecas de saber que estou levando a sério meu recolhimento. Não saio de casa nem pra fazer xixi. Faço aqui mesmo nos jornais que espalhei pela sala para facilitar pro Jolim. Jolim é meu pet, seja lá o que raios pet signifique. Ele não usa os jornais, então os uso eu, para não ter que doar os papéis para a vizinha que tem cachorro de verdade. Mas, sim: Meus filhos têm cada um a chave do apartamento, mas sabem que só devem comparecer em caso de emergência. Qual não foi minha surpresa – eu estava até varrendo a sala – quando o neto mais novo adentra o recinto, feliz da vida, os bracinhos estendidos, correndo na minha direção, gritando Vovô! Vovô! Não tive nem o que pensar. Já que estava com a vassoura na mão, dei-lhe uma chapoletada, que pegou em cheio, fazendo a criança sair tastaviando até o outro lado da sala. Meu filho catou o filho dele, olhou para mim e saiu sem dar tiau.

Filme: NÓS QUE NOS AMÁVAMOS TANTO (Uma obra prima de Ettore Scola, estrelando Vittorio Gassman, Stefania Sandrelli e Nino Manfredi). Baseado numa história real. Um avô recebe o neto a vassouradas porque não foi avisado previamente que seria visitado.

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